segunda-feira, fevereiro 12, 2007

Portugal mais livre

Amanheci hoje num Portugal mais livre...
Não mais verei as mulheres do meu país prisioneiras das suas escolhas.

sábado, fevereiro 10, 2007

Decisões anunciadas

Foi ontem noticiado mais um homicídio de uma mulher. Homicídio este perpetrado alegadamente pelo seu ex-companheiro após um sem número de ameaças, após uma vida de terror minada certamente pelo medo, pela angústia e pela vergonha. E após uma queixa apresentada na GNR de Ourém duas horas e meia antes do crime... a mesma GNR que nada fez porque não havia flagrante...
Continua-se neste país a relativizar a gravidade da violência na intimidade, a subestimar o testemunho e a vida das mulheres que dela são alvo, a adiar decisões que não são passíveis de adiamento. Continua-se neste país a adoptar uma atitude de conivência e de cumplicidade com os agressores, dando-lhes tempo e espaço para concretizarem as suas anunciadas decisões.
Continua-se neste país a não proteger as mulheres...a calar-lhes a voz, a silenciar-lhe os direitos. Continua-se neste país a permitir que as mulheres morram por serem mulheres...

quinta-feira, fevereiro 08, 2007

As múltiplas faces da discriminação e da tolerância

A discriminação tem múltiplos rostos...todos eles indómitos...todos eles inquinados pela opressão, pelo despotismo e pela tirania.
É-se discriminado porque se é diferente...diferente do padrão , do convencionado, da maioria...diferente do todo homogéneo, do todo dominante, do todo normativo...
Quando a discriminação é encapsulada faz-se geralmente o jogo da tolerância, da permissividade, dos discursos do nós e dos outros...Como se os outros necessitassem de uma aceitação formal do nós para existir, para coexistir, para sobreviver...Como se o nós tolerasse a diferença...e por isso ela se tornasse menos incómoda...
Os discursos da tolerância são presentes envenenados. Não servem senão a ideologia das massas e do conformismo que lhes subjaz.

Tolerância: s.f. acção de tolerar, isto é, de admitir sem reacção defensiva; atitude que consiste em deixar aos outros a liberdade de exprimirem opiniões divergentes e de viverem em conformidade com tais opiniões; condescendência; indulgência (in Dicionário O Português Essencial, Porto Editora).

Deixar aos outros a liberdade de, condescender...mas precisarão os outros que lhes deixemos nós a liberdade para...ou que lhes condescendamos alguma coisa? Precisarão os outros da permissão do nós para viver?

sexta-feira, fevereiro 02, 2007

Ciência e Ideologia

A forma como olhamos para a ciência e o uso que fazemos dela reflete inequivocamente a nossa leitura da realidade. Podemos conceber o mundo como um cenário unicolor ou perspectivá-lo como um espaço policromático, repleto de matizes e contrastes. Essa forma de ler a realidade e, por conseguinte, de ler o mundo está embuída de escolhas, posicionamentos e valores.
O conhecimento científico não é isento de ideologias. Não construímos discursos científicos neutros, objectivos e imparciais. Construímos antes narrativas politizadas que traduzem modos de estar, de ser e de saber.
Os discursos científicos têm fortes implicações na vida das pessoas. Esta evidência deve exigir de quem faz ciência e constrói em torno dela narrativas responsabilidade, ética e bom senso.

Ouvi há dias num debate radiofónico, a propósito do referendo sobre a despenalização da IVG, uma psicóloga afirmar convictamente que a piscologia tem muito a dizer sobre o comportamento das mulheres que recorrem ao aborto. Argumentava a senhora em questão que o esquecimento das mulheres no que toca ao uso dos métodos contraceptivos tem um significado psicológico: o desejo inconsciente de engravidar.
Até Freud ficaria perplexo...