segunda-feira, março 26, 2007

O pior português de sempre

Portugal parece ser um país sem memória.
Ao eleger Salazar como o maior português de sempre deu provas de que desconhece o seu passado e o seu povo.
Vivemos hoje numa outra ditadura: a da ignorância face à nossa História.

sábado, março 24, 2007

Liberdade comprometida por decisão judicial

Tive que ler e reler a notícia. Uma e outra vez. A indignação tem em mim efeitos viscerais.

Uma juíza alemã recusou-se conceder o divórcio a uma mulher vítima de violência conjugal, de origem marroquina, baseando a sua argumentação no Alcorão, que parece prever (segundo a interpretação de alguns e algumas, juíza incluída) a punição física das mulheres pelos seus maridos, sempre que a honra destes seja ameaçada. De acordo com o DN de ontem, a edição online do Der Spiegel cita excertos de uma carta enviada pela magistrada a fundamentar a rejeição da aplicação do divórcio imediato fazendo alusão inclusivamente a uma passagem do Alcorão, segundo a qual o marido pode "punir a mulher se julgar a honra violada".

Gostava de lembrar à juíza em questão que os direitos das mulheres (de todas elas, sem excepção) são inalienáveis. Em nome de nenhuma religião, sob qualquer pretexto e em nenhuma circunstância, se pode atentar contra a sua dignidade, quer seja ela física, psicológica ou sexual.
Gostava de lembrar à juíza em questão, que as mulheres (todas elas, sem excepção) exigem do sistema de justiça igualdade no tratamento que lhes providencia e nas medidas que lhes aplica. As mulheres não estão dispostas a vestir nenhum estatuto de menoridade que lhes sonegue a autonomia e a auto-determinação.
Gostava de lembrar à juíza em questão que todas as formas de violência (todas, sem excepção) devem merecer de todos e de todas nós repúdio absoluto e completa intransigência.
Os direitos da mulheres não podem ficar sujeitos a decisões arbitrárias de quem não sabe sequer, mesmo sendo mulher, que as mulheres têm direitos.

sexta-feira, março 23, 2007

A construção social do feminino


Retomo hoje a questão da linguagem sexista...mais particularmente da linguagem publicitária sexista e da máquina voraz que a alimenta. A informação que é bombardeada por via da publicidade é um exemplo bastante claro de como os discursos da comunicação social funcionam como veículos de formação de preconceitos e estereótipos. Se pensarmos especialmente no impacto que esta criação de preconceitos e estereótipos tem na construção social do feminino a questão torna-se ainda mais inquietante.
Grosso modo as mulheres são retratadas na publicidade como objectos sexuais ou como donas de casa. Ou se procura vender a ideia da mulher como um produto de consumo, física e sexualmente falando, ou se insiste na ideia da mulher "fada do lar", comprometida seriamente com as lides domésticas e envergando uma atitude de óbvio servilismo em relação a tudo e a todos. O objectivo da máquina publicitária tem sido o de reforçar a visão que mais convém ao sistema. Um sistema que é, de raiz, enviesado na forma como estrutura o poder de quem o serve.
Por detrás destas máquinas, um gigantesco motor se move.
Poucos são os exemplos de acções publicitárias cuja missão seja travar o gigantesco motor. A última campanha da Dove é um deles. E um bom exemplo. O título é sugestivo: Beleza Real. A marca procura, sob este lema, empenhar-se na desconstrução dos padrões actuais de beleza e na redução das taxas de morbilidade e de mortalidade associadas à realidade das perturbações de comportamento alimentar.
Um exemplo a seguir. Porque também a publicidade deve procurar ser um exercício de cidadania. Para quem a produz e para quem a consome.

domingo, março 18, 2007

Hino ao patriarcado?

Hoje de manhã saí em busca de um cartão para o Dia do Pai. A primeira vez que fui em busca de um cartão para um pai que não o meu. Lá fui.
É o primeiro ano do Luís neste novo papel... responsabilidade acrescida...não vá o Rui com 18 anos acusar-me de não o ter representado convenientemente no primeiro ano em que o pai foi pai... Lá fui então. Tarefa árdua a minha. Uma mãe em representação de um filho...
Frente ao escaparate dos postais...o dilema. O espírito crítico sacode-me...aguça-me a visão, intensifica-me o faro. Um a um os postais dão conta de retratos familiares emocionantes: o chefe de família, a fada do lar e os gaiatos numa harmonia estonteante.
Seriam os cartões uma homenagem ao dia do pai ou um hino ao patriarcado???
Convenhamos. Assim não há mãe que possa representar um filho!

Varsóvia não quer professores homossexuais

Sim, é verdade.
O governo de Varsóvia, dando largas à sua política homofóbica, diz não querer professores homossexuais a ensinar nas escolas polacas. O vice-ministro da educação, Miroslaw Orzechowski, parece ter afirmado a uma rádio, que "pessoas desse género não poderão trabalhar com as crianças (...)".

Pergunto-me como pretenderá este senhor aferir a orientação sexual dos/as candidatos/as a professores/as...provavelmente instituindo uma espécie de cartão de identificação com um qualquer chip de reconhecimento...um passaporte para a clausura... quiçá num dos campos de concentração do país?

Como é possível que uma criatura deste género faça parte de um governo?

segunda-feira, março 12, 2007

Linguagem sexista e desequilíbrios de poder

O sexismo é a expressão social e política do patriarcado e tem geralmente associadas a si duas mensagens subjacentes : 1) a hostilidade contra as mulheres e 2) a rigidificação dos papéis de género tradicionais (Glick & Fiske, 1997).
A nossa linguagem está impregnada de expressões sexistas. Usar o masculino como imperativo universal (o Homem) nos nossos discursos é um dos exemplos mais gritantes desta contaminação. ...o que as pessoas parecem não entender (homens e mulheres) é que estas teias de símbolos linguísticos aos quais todos e todas recorremos, ainda que muitas vezes de forma encapsulada, regulamentam ideologias e estatuem relações de poder. Relações de poder desequilibradas...que acentuam o fosso das diferenças e da discriminação.

domingo, março 11, 2007

Recenseamento militar no feminino

No Dia Internacional da Mulher Severiano Teixeira anunciou que a partir de 2008 o recenseamento militar vai passar a ser obrigatório para as mulheres. Acredita o nosso ministro da Defesa que esta medida vem pôr termo a uma forma de discriminação a que os homens têm estado sujeitos em Portugal.

Sr. Ministro, a sua visão sobre a igualdade entre o sexos comove-me...

quinta-feira, março 08, 2007

Dia Internacional das Mulheres

Por todas as lutas que ainda não se travaram...
Por todas as batalhas que ainda não se venceram...
Por todas as vozes que não têm eco...
Por todos os gritos calados...
Por todas as mordaças e espartilhos que não se arrancaram...
Por todas as vendas que não caíram...

domingo, março 04, 2007

A OPA morreu...

Estava eu a jantar calmamente quando atirei o olhar para a televisão da sala. O título da notícia era: a OPA morreu. De repente pensei: a OPA morreu?...mas quem é a OPA?
Por segundos acreditei que a OPA fosse alguém...uma pessoa subentenda-se...quando muito um animal...mas não (evidentemente que não Sofia!).

Os meus pêsames Sra. OPA! Eterno descanso...

sábado, março 03, 2007

Portugal mais livre...mas ainda injusto!

Um dia após o referendo postei neste blog que tinha amanhecido num Portugal mais livre. A minha convicção é a de que a possibilidade de podermos escolher o que quer que seja, sem uma lei que nos restrinja e, mais do que isso, nos julgue é uma forma de liberdade. Reitero portanto a minha afirmação.
Mas se Portugal está mais livre nesta matéria (apesar do muito caminho a percorrer...) continua noutras a ser um país injusto... e desigual.
Injusto e desigual na saúde, no emprego, na educação, na justiça... injusto e desigual na forma como trata as suas gentes.
Estiveram esta semana reunidas em Lisboa mais de 120 mil pessoas em protesto sob o lema "Juntos pela mudança de políticas”. Foi um sinal inequívoco de que a mudança urge. A muitos níveis e em muitas direcções.