segunda-feira, abril 30, 2007

O direito de dizer não

Há uns dias atrás fiz referência à importância do activismo académico como uma estratégia de contestação às práticas e aos discursos tradicionais da ciência.
Ao olhar para o panorama da publicidade na televisão portuguesa avisto uma outra forma de activismo ou eventualmente uma outra forma de exercício de cidadania que a realidade nos convida (necessária e forçosamente), a todas e a todos, a adoptar.

O mais recente anúncio da Calgonit é paradigmático.
9 em cada 10 portuguesas sorriem graças ao Calgonit.
Este anúncio é paradigmático da urgência de uma qualquer acção política em Portugal que vise uma regulamentação efectiva da máquina publicitária e das linguagens que ela veicula.
Como a acção política tarda, talvez a acção cívica possa surtir os seus efeitos. Como? Tornando-nos conscientes dos produtos que queremos ou não consumir, dos estereótipos que queremos ou não alimentar e, em função disso, optando.
Eu pessoalmente opto por não consumir o discurso de que a felicidade das mulheres depende de um detergente ou de qualquer outra coisa que as confine ao mundo da domesticidade que, é, sejamos claras/os, o mundo da subserviência.
Se depender de mim...das duas uma: ou a Calgonit fecha as portas (ela e todas as congéneres na ideologia) ou repensa a sua política publicitária.

quarta-feira, abril 25, 2007

A revolução da liberdade

Comemoramos hoje o 25 de Abril.
Uma data que nos relembra que outrora se viveu num país distante da liberdade. Um país onde a ditadura espartilhava o povo e as suas vontades.

Comemoramos hoje o direito de sermos soberanos/as.
E nós, mulheres, o direito de termos voz.

terça-feira, abril 24, 2007

Activismo académico

Na ciência, como na vida, tudo o que é pretensamente marginal, tarda a ocupar o espaço da significância.
A introdução de visões alternativas no discurso científico tradicional é, por isso mesmo, uma labuta própria de um/a artífice: exige esmero, dedicação e preserverança. E exige, acima de tudo, um inabalável activismo na defesa pela arte que se modela e esculpe.

A recente publicação do número 76 da Revista Crítica de Ciências Sociais, subordinado às questões LGBT, é um exemplo muito claro de que este activismo é possível. Um activismo académico que urge cultivar em portugal...a bem da nossa sáude mental!

quinta-feira, abril 19, 2007

Consciências apaziguadas

"Quando o papa Bento 16 chegar à catedral da Sé, no dia 11 de maio, para um encontro com bispos brasileiros, a praça estará vazia, sem os mendigos ou os meninos que moram nas imediações da igreja. Horas antes da chegada do pontífice, a Polícia Federal, que disponibilizará 400 agentes especiais para acompanhar a visita de Ratzinger ao Brasil, afastará todos os moradores de rua, fechará a catedral e bloqueará o acesso à praça" (Folha de São Paulo, 16/04/2007) .

Longe da vista, longe do coração?
Ou o que os olhos não vêem o coração não sente?

A operação de limpeza, baseada no argumento da segurança, vai certamente apaziguar muitas consciências. Pelo menos enquanto durar a visita.

A tarefa das universidades

As notícias da última semana, que nos chegam do país e do mundo, são francamente perturbadoras.
A notícia do massacre nos EUA é contudo, a mais perturbadora de todas, pela tragédia humana e social que traduz. O que se passou no campus universitário da Universidade da Virginia relança o debate sobre o uso livre de armas nos EUA, mas relança sobretudo a discussão sobre o apoio que as universidades devem providenciar aos/às seus/suas alunos/as relativamente à sua integração na vida académica.
O ingresso na universidade constitui uma etapa de transição de alto risco no percurso de um/a estudante. As mudanças associadas a esta etapa exigem uma enorme capacidade de adaptação. Adaptação a uma nova lógica de ensino, adaptação a um novo contexto, adaptação a novas relações sociais, adaptação a um outro nível de autonomia pessoal, adaptação a uma outra cidade, a uma outra casa...a um novo vazio, a um novo silêncio que a ausência da família pode constituir. Nem sempre esta transição para a idade adulta é isenta de constrangimentos. E os constrangimentos, quando não amortecidos devidamente, podem evoluir para quadros de desvio, de isolamento social, de perturbações psicopatológicas. No limite, os constrangimentos podem dar lugar a comportamentos criminosos.

A tarefa das univerdades não pode ser apenas a de ensinar. Temos a responsabilidade de desempenhar uma outra tarefa bem mais complexa (e do meu ponto de vista bem mais importante): a de sermos uma plataforma para o desenvolvimento integral dos cidadãos e das cidadãs desta aldeia global. Amortecendo os constrangimentos que a transição para a vida adulta traz consigo. E que são muitos.

sexta-feira, abril 13, 2007

O regresso da censura?

Não fiquei particularmente satisfeita com a entrevista que o primeiro ministro deu à RTP. Mas a verdade é que, bem ou mal, o Engenheiro Sócrates desempenhou o papel que esperávamos que desempenhasse: o de esclarecer quem durante quase 3 semanas acompanhou as notícias que davam conta da novela que parece ser o seu percurso académico (ou pelo menos os registos que se conhecem dele).
O que neste momento me deixa efectivamente preocupada é o facto de alegadamente ter havido, por parte da equipa que assessora o primeiro ministro, tentativas de censurar a divulgação da informação sobre todo este processo. Ao que consta terão sido feitos telefonemas, em tom de ameaça velada, a alguns orgãos da imprensa escrita e da televisão com o objectivo de impedir que as notícias fossem tornadas públicas.
Não nos bastava o saudosismo salazarista e a xenofobia da direita radical em Portugal...parece que temos em mãos um desejo de fazer regressar a censura!

terça-feira, abril 10, 2007

O silêncio do primeiro ministro

Aguardo, com expectativa, que o primeiro ministro se pronuncie publicamente, como o país merece, sobre tudo o que tem vindo a ser noticiado sobre o seu curriculum.
O país espera do primeiro ministro um cabal esclarecimento.
O silêncio pode, para ele, ser eloquente. A mim, pessoalmente, ensurdece-me.

quinta-feira, abril 05, 2007

Cidadania ao mais alto nível!












Numa atitude de repúdio pela campanha anti-imigração lançada pelo PNR, os Gatos Fedorentos resolveram colorir Lisboa com o seu próprio cartaz...
Eu diria mesmo que se trata de uma acto de cidadania ao mais alto nível.
Se usasse chapéu...tirava-o!

O argumento do destino

A discriminação contra as mulheres, sendo um fenómeno universal, materializa-se de diferentes formas em função de particularidades culturais.

Todos os dias, na Índia, milhares de mulheres são queimadas vivas porque os dotes exigidos pelos seus futuros maridos são considerados insuficientes. As estatísticas indicam, de acordo com a Amnistia Internacional, que a cada ano cerca de 25.000 noivas são vítimas deste flagelo. Destas 25.000 mulheres, segundo a UNICEF, 5.000 são vítimas mortais.
As comunidades são complacentes com os denominados crimes de honra e o sistema de justiça raramente condena ou sentencia os agressores.

Na Índia, como noutros países do mundo, as mulheres são reduzidas a cinzas por serem mulheres. Se o corpo queimado não as faz cativas...uma qualquer outra forma de clausura lhes imobiliza as escolhas.

As desigualdades de género não são, seguramente, fruto do acaso...

O processo que nos conduzirá ao trilho da igualdade exige de nós, forçosamente, um exercício de reflexão sobre como desmontar o argumento do destino.

quarta-feira, abril 04, 2007

Um exemplo de coragem e de determinação

Em finais da década de 50 um casal de jovens médicos obstetras viajou até à Etiópia com um claro propósito: o de colocar as suas vidas ao serviço das mulheres que delas necessitassem. Na noite em que chegaram ao país um colega apresentou-lhes a realidade da Fístula Obstétrica, aquilo que para eles constituía, até ao momento, uma raridade académica.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde a Fístula Obstétrica é uma lesão grave que ocorre em consequência de um trabalho de parto prolongado ou de uma incompatibilidade feto-pélvica. O trauma da parede vaginal provoca uma abertura entre a vagina e a bexiga, a vagina e o recto, ou ambos, o que faz com que a mulher tenha perdas constantes de urina e/ou fezes através da vagina.
Estima-se que mais de 2 milhões de mulheres em todo o mundo sofram deste problema, o qual está directamente associado ao fenómeno do casamento precoce forçado e a condições extremas de pobreza social, condições essas que se acentuam exponencialmente quando são devolvidas à família e votadas ao isolamento, vivendo não raras vezes em locais totalmente afastados da comunidade, onde o cheiro que destilam não pode ser sentido, onde não recebem nenhum tipo de tratamento médico e onde morrem a cada dia.
Antes de Reginald e Catherine Hamlin terem chegado à Etiópia não havia, em nenhum lugar do mundo, tratamento para a Fístula Obstétrica. A eles se deve a construção de um projecto que viria a edificar uma série de hospitais que providenciam, gratuitamente, a cirurgia correctiva que devolve a esta mulheres a saúde e a dignidade. E em 33 anos 32.000 mulheres viram recuperada a sua autonomia. E a sua liberdade.
A Dra. Catherine Hamlin está hoje gravemente doente, longe do sonho que construiu e que lhe fez valer uma nomeação para o Prémio Nobel da Paz.
O legado que nos deixa a todos e a todas é de um valor inestimável. Ensinou-me, a mim particularmente, que a luta em prol dos Direitos das Mulheres é um caminho que se desbrava com coragem e determinação...

terça-feira, abril 03, 2007

Portugal a todos/as

O Partido Nacional Renovador (PNR) anuncia, espraiando a sua escancarada xenofobia, que Basta de Imigração em Portugal. O outdoor da polémica apela ao regresso dos/as imigrantes a casa e informa o povo que o nacionalismo é que é a solução.
Na parte final do cartaz pode ler-se "Portugal aos Portugueses".
A fazer lembrar..."o seu a seu dono".

Não falamos em Portugal todos/as a mesma língua, mesmo sendo portugueses/as. E ainda bem. No universo daqueles/as portugueses/as a quem o PNR quer devolver o país fala-se um dialecto diferente do meu. Um dialecto de incitamento ao ódio e ao racismo que me torna a mim uma estrangeira em território nacional.

Na minha mátria, onde todos/as têm lugar, fala-se a linguagem da inclusão e da democracia. No meu país, onde todos/as são benvindos/as, fala-se a linguagem da liberdade.

Portugal a todos/as...