sábado, julho 26, 2008

Em Berlim...


Que emocionante foi ver Obama ser aplaudido por cerca de 200.000 pessoas em Berlim!

segunda-feira, julho 21, 2008

Casamento civil entre pessoas do mesmo sexo: quando o debate é permeado pela estupidez

Não, não vou remeter-vos para o link do artigo. Vou transcrever o artigo, para que o possamos ler com a atenção e o cuidado que ele merece.

O título do artigo de opinião é:
Casamento "gay", o debate e a estupidez

O colorido é meu!

"Antes que venha a ILGA, ou outro qualquer lóbi "gay", acusar-me da costumeira homofobia ou coisas do estilo, permitam-me que diga o seguinte: sou, no geral, contra qualquer discriminação, nomeadamente contra a discriminação de homossexuais.
Isto passa por defender, como absolutamente legítimo e inquestionável, a possibilidade de os casais homossexuais terem mais ou menos o mesmos direitos do que os outros casais. E digo mais ou menos porque há um direito que eu sei que eles não devem ter: o de adoptar crianças. Reparem que eu jamais direi que um casal homossexual, só por o ser, não sabe tratar crianças com amor e com todos os requisitos de que elas necessitam. Mais: defendo - e defendi, numa crónica neste jornal quando a questão concreta se pôs - que um tribunal não pode tirar um filho ao seu pai ou mãe natural baseado no facto de ele (ou ela) ser homossexual.
Apenas digo que o Estado, ou quem guarda as crianças a adoptar, não deve discriminar nenhuma delas entregando-a a um casal que não está dentro da norma (no sentido em que a norma, encarada do ponto de vista meramente estatístico, é o casal heterossexual). Aliás, quando o primeiro-ministro, criticando Manuela Ferreira Leite, considerou 'pré-moderno' afirmar que o casamento se destina à procriação, eu permito-me discordar. Não é pré-moderno, é da condição humana.
Todos nós ao cimo da terra somos filhos de um pai e de uma mãe e não de dois pais ou de duas mães. O Estado pode legislar contra este facto da natureza, mas é arrogante pensar que pode alterá-lo na sua essência.
De resto, a discriminação que sofreria uma criança entregue a um casal homossexual é, a meu ver, muito mais condenável do que não chamar 'casamento' à união que consagra os direitos de dois homossexuais.
Acrescentaria, ainda, que uma lei de coabitação bem feita poderá perfeitamente servir. Com a vantagem de o Estado não necessitar de saber quem é homossexual e quem apenas vive junto por necessidade económica, amizade pura ou outro qualquer aspecto que só ao próprio diz respeito.
Resolver problemas na prática é a finalidade da política. Se permitir todos os direitos menos o da adopção (como parece ser a disposição do PS e do PSD), não se pode chamar a essa junção 'casamento', como pretendem certos políticos convencidos da sua modernidade. A insistência no nome apenas revela a agenda escondida, ou seja, a adopção de crianças por homossexuais. E isso seria de uma estupidez imperdoável".

Assina o texto Henrique Monteiro, no Expresso desta semana.

Não faço parte da ILGA, não sou lésbica, nem pertenço a nenhum lobby gay. Mas poderia fazer parte da ILGA, poderia ser lésbica e poderia pertencer a um ou vários lobbies gay. Não preciso pertencer a nenhuma destas categorias para apontar o dedo à costumeira homofobia ou outras coisas do estilo. É que a luta contra a discriminação não é uma coisa lá com eles e com elas, é uma coisa nossa, dos cidadãos e das cidadãs deste país, portanto uma questão de CIDADANIA.

Mais uma vez a discussão gira em torno do que parece melhor descredibilizar e enfraquecer o direito ao casamento civil entre homossexuais. Retomou-se um debate antigo (que conhecemos bem): o do direito à vida (já não o direito ao nascimento, mas o direito ao desenvolvimento harmonioso). À vida de quem? Ao desenvolvimento de quem? Das crianças, claro. É-nos dito neste artigo, sem reservas, que o dramático da exigência da consagração do casamento civil entre homossexuais é o facto de haver nessa exigência um interesse velado: o de adoptar crianças. Como os homossexuais têm mais ou menos os mesmos direitos que os outros casais, é possível que eles sejam mais ou menos discriminados. As crianças é que não o podem ser. Porque ser pai ou mãe de uma criança e ser ao mesmo tempo homossexual ou lésbica é submetê-la a uma atroz discriminação...

Imagino como será traumático para uma criança ser filha de duas mães ou de dois pais que a amam...

Imagino o difícil que deve ser para uma criança viver numa família saudável...que lhe presta cuidados, que a mima, que a ampara, que a protege...

Imagino como será penoso para uma criança ser feliz fora da alçada da norma dos outros. É que a norma é muito mais do que um conceito estatístico...

Não posso imaginar, isso sim, o que seria não poder ser livre para casar ou para ser mãe do Rui (ou de qualquer outra criança) apenas por ser lésbica.

Essa seria uma estupidez que eu não perdoaria ao Estado português.

Agora foi

A Assembleia da República aprovou a 18 de Julho de 2008 a Ordem dos Psicólogos.
Depois de anos e anos e anos...

segunda-feira, julho 14, 2008

Elina Guimarães

A UMAR está novamente de parabéns.
O Centro de Documentação e Arquivo Feminista Elina Guimarães é mais uma passo essencial na divulgação dos Estudos Feministas e de Género.

quarta-feira, julho 09, 2008

Outro bom exemplo vindo de Espanha

A nova campanha do Ministério da Igualdade do governo espanhol:
Tolerância Zero para os agressores

Quando maltratas uma mulher deixas de ser um homem


Militância quotidiana

Cartaz da autoria de João Brito

Há dias que venho alimentando a minha vontade de escrever sobre aquela noite.

Como transcrever para o papel (ou para a tela de um computador) o culminar de um desejo antigo, a vivência de uma emoção que foi maturando e ganhando forma a partir de interesses partilhados? É que a emoção (ou o processo que nos leva a experimentá-la) não tem tradução. Podemos rendilhar a escrita, bordar o texto, dar-lhe vida própria...mas uma coisa é sentir, outra é escrever sobre o que sentimos.

Por mais que queiramos descrever as sensações, os cheiros, os olhares cruzados, as cumplicidades...as palavras não chegam, não são o bastante.

Para mim a academia é um espaço de democracia.
Exercitamos o nosso direito a cultivá-la promovendo o debate, a reflexão, a consciência crítica.
É assim que cresce a ciência. A ciência que emancipa, que liberta. A ciência que se faz em benefício das pessoas reais.
Naquela noite celebramos a democracia. E estivemos de mãos dadas...a ciência e as pessoas reais.

Um espaço de encontros

Por razões estritamente pessoais não pude estar presente na sessão de encerramento do Congresso Feminista 2008. Não pude portanto ver e ouvir, ao vivo e a cores, a magnífica intervenção da Salomé Coelho. Deixo-vos aqui o texto para que o apreciem.

E assim se transforma um ponto final, numa vírgula.

sexta-feira, julho 04, 2008

Congratulations!



Benvinda a este mundo - agora um pouco mais diverso!


quinta-feira, julho 03, 2008

O Senhor Bicho-Homem (sem desprimor pelos bichos...)

"O nosso feminismo tem algumas coisas em que faz lembrar um machismo ao contrário e alimenta-se de estatísticas desactualizadas, verdades mortas e indignações fáceis a partir da simplificação ou adulteração das coisas"

Nosso feminismo?
Julgará este SENHOR que o feminismo tem alguma coisa de seu?

Não sou certamente uma verdadeira senhora. Já o sabia, mas se dúvidas tivesse, teriam sido todas elas dissipadas após a leitura deste texto. Dizia sarcasticamente a Prof. Lígia Amâncio na abertura do Congresso Feminista 2008 que muito se tem apelado, ao longo da História, a essa característica própria das verdadeiras senhoras: a paciência. Talvez o título desta crónica quisesse fazer juz a essa qualidade. Como já não tenho paciência, presumo que não sou uma verdadeira senhora.

Esta obra prima, da autoria de um verdadeiro exemplar de bicho-homem - de peito aberto como se querem os machos de facto, capaz de amparar com a sua pujança todas as balas que lhe forem dirigidas- é um documento a emoldurar, qual quadro raro, no museu do machismo. (Ainda não há um museu do machismo??? Criem um depressa, por obséquio, não vá essa falta ser considerada mais uma forma de feminismo entranhado, desta feita não nas leis mas na cultura deste país!)

Diz no seu texto a máscula criatura que as organizadoras do congresso justificam a sua realização: 1. Pela situação das mulheres no mundo (ou no submundo, como faz questão de corrigir)
2. Por razões internas (que evocam em versão disco riscado).

De repente ficamos elucidadas/os sobre duas questões fundamentais: primeira, os problemas das mulheres confinam-se a um submundo e, por isso, não faz sentido discuti-los a uma escala global; segunda, a situação das mulheres não comporta temas femininos ("a lapidação, a excisão, a pobreza extrema, o tráfico de mulheres, o aborto"), mas de Direitos Humanos, e por isso não faz sentido serem as mulheres a querer resolvê-la.

"Não é preciso ser mulher para achar aberrante a lapidação islâmica ou a excisão praticada em algumas tribos de África". Tem toda a razão. Mas é preciso ser mulher para se ser vítima de lapidação ou de excisão em algumas tribos em África.
Tem toda a razão também quando diz que a situação das mulheres é matéria de Direitos Humanos. O que são os Direitos das Mulheres senão Direitos Humanos?

Descobrimos outra coisa neste documento revelador (eu ter-lhe-ia chamado TODA A VERDADE SOBRE O FEMINISMO): o padrão dominante do macho-luso é residual. Mais: se ainda existem machos-luso, a culpa é das mulheres, que escolhem mal as companhias.

Outra extraordinária surpresa contém este documento: a desigualdade é pura ficção. Somos todos e todas, os e as feministas, uma cambada de mentirosos/as (ou se quiserem de esquizofrénicos/as alucinados/as). Inventamos tudo, adulteramos dados, desactualizamos estatísticas, proliferamos verdades mortas. Indignamo-nos com facilidade, simplificamos...

Desemprego e pobreza no feminino? Trabalho igual com salários diferentes? Triplas jornadas? Défices de representação? Violência contra as mulheres? Ausência de conciliação?
Tudo não passa de um delírio nosso. As próprias evidências científicas não passam de uma mera ilusão.

As quotas parecem ser, para esta mente iluminada, mais uma estratégia de afirmação da nossa insanidade. Quotas? Quem nos garante que as quotas não vão promover a mediocridade, em nome da igualdade de sexos, pergunta o senhor bicho-homem ?
Promover o quê? Pergunto eu? Não é preciso promover o que já existe! Ou garante-me o Senhor Miguel Sousa Tavares que os homens do poder não são medíocres?
Quando as mulheres medíocres chegarem ao poder nas mesmas circunstâncias que o homens lá chegam talvez a igualdade tenha sido efectivamente alcançada.

"Porquê quotas a favor das mulheres e não de outros segmentos da sociedade onde a discriminação é muito mais efectiva e não dispõe de lóbi nem voz activa, como os deficientes e doentes crónicos, os de outra raça, os estrangeiros imigrados ou os de mais de 45 anos, para quem o mercado de trabalho se fecha a sete chaves?"
Porquê as mulheres? Imagino que a pergunta seja retórica...

Os de outras raças? Os humanos - homens, mulheres e outros segmentos da sociedade - fazem todos/as parte de uma única raça: a HUMANA. Embora nem todos/as tenham o direito a ser tratados/as como tal e para o contrariar tenham que reivindicar quotas.

Meu Senhor: os feminismos nunca poderiam ter nada de seu.

quarta-feira, julho 02, 2008

Heteronormatividade

Diz não ser, sendo: RETRÓGRADA
Diz ser, sendo: HOMOFÓBICA

Ficamos ontem a saber de modo inequívoco que Manuela Ferreira Leite considera que as "ligações" entre pessoas homossexuais são uma questão de liberdade individual, uma questão que tem a ver com a "opção" de cada um/a, sobre a qual a líder do PSD não se quer pronunciar (e bem, digo eu). Pronuncia-se sim (e para isto já parece estar autorizada) sobre o estatuto dessas relações, estatuto esse que segundo ela deverá ser socialmente diferenciado.

Ferreira Leite afirmou qualquer coisa como: para o que é diferente, salvaguarde-se a diferença. Em nome dos valores da família e do seu fim primordial - a procriação - reforce-se o primado da ordem natural das coisas. No seu entender parece ser natural a forma como a sociedade portuguesa trata hoje os homossexuais e as lésbicas e como não trata os seus direitos.
Há aqui um argumento bastante explícito nesta apologia à diferença. A discriminação é apenas o produto da evidência da diferença. Como podemos dizer que é igual o que é naturalmente diferente?
Para as verdadeiras famílias, as de primeira linha, as que cumprem a função da propagação da espécie à séria - as hetero, subentenda-se - preservem-se todos os direitos. Para as outras, as pseudo-famílias, as de segunda - as famílias homossexuais e lésbicas -apenas a tolerância de quem até se regozija de não ser suficientemente retrógrada e por isso as poder aceitar como possíveis.

Os ares de modernidade e a suposta mentalidade aberta que Ferreira Leite anuncia tropeçam num cristalino discurso de segregação e discriminação que tenta justificar, admitindo que o sustenta, aludindo a valores tradicionais.
Quase que nos disse a líder do PSD ao ouvido e em jeito de confissão que o problema não é ser discriminatória a sua atitude perante o casamento entre homossexuais. O problema é haver pessoas diferentes que atentam contra a moral cristã e os preceitos de uma cultura heteronormativa. A sua argumentação constrói-se com base numa forma comum (e profundamente homofóbica) de pensar as questões da orientação sexual:

Aceito que existam homossexuais e lésbicas porque esse direito lhes assiste (e lá vem a questão da liberdade embelezar a ideia da tolerância), desde que (e este é o ponto) eles e elas não abdiquem da sua condição de clandestinidade.

A pretexto da opção, da escolha, do livre arbítrio de se poder ser o que se quiser ser...esquece-se um outro pretexto: o de que a verdadeira liberdade é aquela que não impõe.
Quando dizemos a um casal de lésbicas ou de homossexuais que o podem ser, mas que não podem casar, que não podem ter filhos/as, que não podem adoptar, estamos a dizer-lhes que a sua liberdade não é sua.
Oxalá Manuela Ferreira Leite fosse suficientemente esclarecida para perceber algo que é tão simples.