É raro o dia em que não aviste, a cada passo, longe ou perto, uma qualquer situação de discriminação. Não porque o meu olhar tenha um alcance maior ou menor do que o olhar dos outros...talvez apenas o desvie menos. De forma mais ou menos subtil, implicita ou explicitamente, a verdade é que não sou poupada ao convívio quotidiano com o absurdo (aparentemente pacífico na óptica de quem com ele compactua) da não aceitação da diferença e, mais do que isso, da maquiavélica intencionalidade de o demonstrar, de o tornar publicamente evidente.
Ontem vim para casa com o coração aos pulos. Fico geralmente assim quando a indignação toma conta de todos os meus sentidos. E foi precisamente o que aconteceu.
Foi-me dito, durante o intervalo de uma aula, que alguns/as dos/as meus/minhas alunos/as têm vindo a alvo de comportamentos racistas. Foi-me dito em discurso directo, na primeira pessoa, por quem tem vindo a ser obrigado a lidar com a monstruosidade e a perfidez dos outros, dentro e fora do contexto académico. Foi-me dito em tom de sofrimento e de dor e de mágoa, por quem sente a exclusão e o cansaço...e bravamente continua a lutar, apesar do cansaço e da exclusão (e dos encontrões que a cada momento precisa evitar para não ser atirado "borda fora").
Não costumo cruzar os braços diante da miséria. Não será certamente diferente desta vez.
Apesar do meu cansaço...
quinta-feira, março 06, 2008
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4 comentários:
Desperto para estes sentimentos várias vezes. Compreendo o que sente, imagino. Não cheguei ao cansaço, ainda, mas já prendo o meu olhar e os meus ouvidos ao mínimo sinal de discriminação e piada subtil sobre este ou aquele tema ou raça(como gostam de chamar) género - ou sexo, como dizem. Força para continuar e um grande bem-haja por essa humanidade.
Obrigada por estar atenta, obrigada por passar a palavra, por nunca cruzar os braços, por nós seres humanos; homens ou mulheres.
Obrigada por despertar as consciencias das/dos quais estou certa que o faz.
Que bom vê-la por aqui Sónia! E ouvi-la, sobretudo!
Um beijinho grande
Penso que isto aconeteceu na nossa aula ... mas infelizmente nao assiti à conversa, apesar de ter entendido o conteudo do tema quando cheguei ...
É uma realidade ainda muito patente na nosso sociedade ... e mesmo nos sitios e nas faixas etarias que menos se espera la esbarramos com estes tipos de preconceitos ... é preciso ainda fornecer muita formaçao aos seres que se dizem humanos e racionais ...
Incrivel...os anos passam mas existem caracteristicas que a definem enquanto pessoa que nunca mudam...sendo que a indignação e atitude de justiça social são das que mais me admiram.Obrigada por continuar a fazer com estes alunos aquilo que sempre nos mostrou...Não se limita a ser simplesmente professora mas demonstra que todos os dias através da formação de profissionais contribui para uma sociedade mais justa. Isto sim é educação!!!!!
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