sexta-feira, fevereiro 02, 2007

Ciência e Ideologia

A forma como olhamos para a ciência e o uso que fazemos dela reflete inequivocamente a nossa leitura da realidade. Podemos conceber o mundo como um cenário unicolor ou perspectivá-lo como um espaço policromático, repleto de matizes e contrastes. Essa forma de ler a realidade e, por conseguinte, de ler o mundo está embuída de escolhas, posicionamentos e valores.
O conhecimento científico não é isento de ideologias. Não construímos discursos científicos neutros, objectivos e imparciais. Construímos antes narrativas politizadas que traduzem modos de estar, de ser e de saber.
Os discursos científicos têm fortes implicações na vida das pessoas. Esta evidência deve exigir de quem faz ciência e constrói em torno dela narrativas responsabilidade, ética e bom senso.

Ouvi há dias num debate radiofónico, a propósito do referendo sobre a despenalização da IVG, uma psicóloga afirmar convictamente que a piscologia tem muito a dizer sobre o comportamento das mulheres que recorrem ao aborto. Argumentava a senhora em questão que o esquecimento das mulheres no que toca ao uso dos métodos contraceptivos tem um significado psicológico: o desejo inconsciente de engravidar.
Até Freud ficaria perplexo...

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