Achava, como acho agora, que os concursos de misses, de um modo geral, em nada dignificam o estatuto das mulheres que neles participam (nem o das que a eles assistem), reforçando antes a representação social do corpo feminino como instrumento de contemplação e consumo. Das frases feitas proferidas pelas coroadas, sem sentido, vazias de conteúdo, ficava-me sempre a sensação de que nada daquilo era produto de uma verdadeira reflexão sobre os problemas do mundo. Desejar a paz, acabar com a guerra, saciar a fome...tudo aquilo me soava a ensejos de circunstância.
Ontem de manhã quando ia trabalhar ouvi na rádio uma notícia que me fez voltar a pensar nisto: nas misses e nos seus concursos.
A notícia que ouvi era sobre a organização, em Angola, de um concurso de misses chamado MISS LANDMINE. As concorrentes são mulheres amputadas vítimas do flagelo das minas terrestres e disputam entre si não só um lugar na passarelle, mas um prémio muito especial: uma prótese feita à medida.
O projecto publicou o THE MISS LANDMINE MANIFESTO, com os seguintes objectivos:
Female pride and empowerment.
Disabled pride and empowerment.
Global and local landmine awareness and information.
Challenge inferiority and/or guilt complexes that hinder creativity- historical, cultural, social, personal, African, European.
Question established concepts of physical perfection.
Challenge old and ingrown concepts of cultural cooperation.
Celebrate true beauty.
Replace the passive term 'Victim' with the active term 'Survivor'
Se o propósito fundamental desta iniciativa é o de evidenciar a luta contra a discriminação (e acredito que seja) e celebrar a verdadeira beleza, desafiando os complexos de culpa e de inferioridade e autonomizando estas mulheres...venha daí o manto, a coroa e a restante parafernália monárquica. Até eu quero coroar estas misses!
quinta-feira, abril 03, 2008
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