quinta-feira, maio 29, 2008

Desculpas??? Não chegam...

...são demasiado cómodas...demasiado supérfulas...
apenas adormecem as consciências, minimizam a culpa, anestesiam a responsabilidade!




O relatório da Amnistia Internacional é explícito nas suas conclusões.

Portugal continua a permitir que os direitos humanos de nacionais e estrangeiros/as sejam severamente violados.
Os maus-tratos por parte da polícia e a violência contra as mulheres são pontos nevrálgicos na sociedade portuguesa.

O documento fala em IMPUNIDADE e incita a um pedido de desculpas.

Mas as desculpas não chegam...há que fazer mais do que balbuciar um vocábulo de conveniência, encolher os ombros e seguir em frente como se o que ficasse para trás não tivesse remédio (porque remediado está!!!).
Precisamos de políticas de não contemplação e de não resignação.
Não resolvemos a pobreza, a fome, o desemprego, a violência e a discriminação com um aceno de cabeça em jeito de lamentação.

Um sinal de esperança referido no relatório, apesar dos pesares...a nova lei da imigração de 4 de Julho deixou de considerar as vítimas de tráfico humano como imigrantes ilegais. Porque não era suficiente pedir-lhes perdão...

Bebé à venda no Ebay...

...Ou o tráfico humano já não mora apenas nos meandros da clandestinidade...

"Offering my nearly new baby for sale, as it has gotten too loud. It is a male baby, nearly 28in (70cm) long and can be used either in a baby carrier or a stroller."

“It was only a joke. I just wanted to see if someone would make an offer. They’ve taken my son to a hospital and I’ve got to take psychiatric tests next week.”

A joke? Lançar o isco para um leilão de carne humana?
Poderá ser isto uma piada? Poderá ter isto alguma graça?
Vender um bebé no ebay poderá ser motivo de gozo e de júbilo?
Estipular uma base de licitação de 1 euro (ou de qualquer outro valor) para a venda de um ser-humano na internet poderá fazer esboçar sorrisos?
Testes psiquiátricos? A quem? Para quê? Com a intenção de provar o quê? Esta insanidade é social! Haverá pastilha que a trate?

Quando penso que a miséria humana chegou ao limite do possível...levo um banho de realidade!

quinta-feira, maio 15, 2008

Feminismo entranhado...

O Bastonário da Ordem dos Advogados, do alto da sua imensa sabedoria, defendeu na Assembleia da República que a violência doméstica deveria deixar de ser considerada um crime público, pois inviabiliza o direito de ser a vítima a decidir se quer ou não acusar o seu agressor.

Considera Marinho Pinto que padece o sistema de um feminismo entranhado nas leis!

O Sr. Bastonário parece desconhecer profundamente o seu país e as leis que o regem. De outra forma não se compreende a sua afirmação de que as leis portuguesas incorporam os direitos das mulheres nos seus enquadramentos.
O Sr. Bastonário parece não saber algo que é conhecido de todos/as (de todos/as quanto se interessam em conhecer de facto a realidade que os/as circunda): o Direito tem sido classicamente um instrumento masculino. Para saber isto basta conhecer a História.
"O Direito constitui uma enorme parcela da hegemonia cultural dos homens, numa sociedade como a nossa, e uma hegemonia cultural significa que aceitar uma visão da realidade específica de um grupo é considerado como sendo normal no enquadramento da ordem natural das coisas, mesmo por quem, na realidade, lhe está subordinado. É assim que o Direito contribui para manter a posição de um grupo dominante" (Tove Stang Dahl, 1993, p. 6).
Não estamos em Portugal longe desta realidade, a realidade de facto, aquela que deve ser conhecida e reconhecida por quem ocupa posições de destaque e tem responsabilidades em ser referência para os seus pares. E quem se move nos contextos da justiça, esse manto de relações de poder construído em torno do que são os factos, não tem como renegar as evidências, os factos...e as evidências e os factos apontam para uma conclusão bastante óbvia: não há nenhum resquício de feminismo nas leis...nem nos legisladores...

O Sr. Bastonário parece igualmente desconhecer a realidade das vítimas de violência, as suas necessidades e os seus direitos. De outra forma não se compreende o repto ao recuo e ao retrocesso que fez na Assembleia da República. Os caminhos de revitimação que o sistema abre a quem está numa situação de enorme vulnerabilidade como as vítimas de violência doméstica não carecem de ser desbravados. Permitir que este crime deixasse de ser público seria avalizar a sua privatização...

Talvez seja de exigir ao Sr. Bastonário um pedido de desculpas - e a DEMISSÃO, claro!

A suas declarações envergonham a democracia.

sexta-feira, maio 09, 2008

O passado e o presente...ou o passado no presente...

(Duas aulas durante a semana sobre metodologias feministas...uma apresentação num congresso sobre as múltiplas rupturas a que as mulheres estão habitualmente expostas...acessas discussões sobre o passado e o presente...mas também sobre o futuro.

Argumentos em jeito de esgrima...interpelações a seco, respostas inflamadas...

A pergunta... seremos hoje assim tão diferentes do ontem???)

Olhemos o passado...

(Imagens do livro You Mean A Woman Can Open It?: The Woman's Place In The Classic Age Of Advertising)








Reparemos no presente...

(O responsável pela unidade de Negócios de Cerveja refere que a escolha da menina do anúncio tem uma razão de ser. "É pequena, leve, charmosa, divertida, atrevida e fresca até à última gota!". )

quarta-feira, maio 07, 2008


Um convite e uma sugestão.
Boas leituras!

terça-feira, maio 06, 2008

Trajemos de negro...

não o corpo, mas a consciência!

Se não podes ser minha, não serás de mais ninguém...

AS MULHERES NÃO PERTENCEM A NINGUÉM...senão a elas próprias.

Cinema implicado


Ciclo de Cinema: de 12 a 18 de Maio, às 21h, na FPCE da UP.

A caminho do congresso feminista...

segunda-feira, maio 05, 2008

A homofobia petrifica-me...

Sábado de manhã em família. Caminho eu despreocupada e alegremente quando me deparo com aquilo. Fico petrificada. As gordas do Público anunciam que 70% dos portugueses são contra as relações homossexuais, por estas serem "erradas". Os homens são os que mais se posicionam nesta linha de pensamento: são os que mais condenam as relações homossexuais do seu sexo.

Portugal é um país homofóbico. Já o sabia. Sabia-o pelos discursos do dia-a-dia que ecoam nos corredores da vida: dos mais públicos aos mais privados. Sabia-o porque detrás de uma linguagem vinculada ao politicamente correcto esconde-se a visão real dos acontecimentos, aquela que condena o casamento, a adopção e os demais direitos de se ser cidadão e cidadã numa sociedade que se diz ser igual para todos/as...mas que se faz diferente.

A homofobia petrifica-me. Mas também me petrifica (de um outro modo, salvaguardadas as diferenças entre estas duas formas de petrificação) a generalização, a facilidade com que se extrapolam resultados e se infere a representatividade. 70% dos portugueses! Não 58,9 dos 3643 indivíduos inquiridos!
Petrifica-me igualmente a possibilidade do conformismo...a possibilidade de apropriação das gordas do Público (e dos seus perigosos significados) por parte de quem quer legitimar o imperialismo da imbecilidade: se 70% dos portugueses acha isto, então é porque isto é que está certo! E assim se propaga o vírus e se alastra o contágio.