quinta-feira, novembro 22, 2007

Identidades tatuadas

Reinventem-se novas formas de catalogação...as implícitas já não servem o propósito da hierarquização social. Estão a esgotar-se os argumentos teóricos da diferença...há que legitimar modos alternativos de instituir as fronteiras entre o normativo e o desviante.

Apresse-se o fabrico dos emblemas, das faixas, dos símbolos...para que as pessoas possam vestir-se deles e assumir publicamente as identidades que os outros lhes querem impôr.
Passaremos a ter na pele a inscrição do que somos ou do que os outros querem que sejamos...

Se somos saudáveis ou doentes, respeitáveis ou criminosos/as, cidadãos e cidadãs de primeira ou de segunda, se somos hetero ou homo, ou bi ou trans, se acreditamos em Deus ou no Diabo ou na Natureza (ou em coisa nenhuma senão em nós próprios/as ou nem mesmo em nós próprios/as), se somos abstémios/as ou excessivos/as, de direita, de esquerda ou do centro, se somos felizes ou frustados/as...se somos ou não somos...porque não tatuá-lo? Torná-lo visível? Para que quem formula e se serve das regras do dever-ser possa saber quem excluir, segregar, afastar...
Só assim garantiremos o risco zero de contágio. Só assim saberemos quando atravessar a rua, usar a máscara, apanhar a vacina...

Andamos todos e todas a proteger-nos uns/umas dos/as outros/as...que medo é este da pluradidade?
Não aprendemos nada com o passado?

sexta-feira, novembro 16, 2007

Doutrinação...

Um ilustríssimo procurador do ministério público de Castro Daire parece ter considerado legítimo que um catequista esbofeteasse um jovem de 13 anos, deixando-o a sangrar.
Ao que consta o rapaz terá desobedecido, no contexto de um acampamento, à ordem que o catequista lhe terá dado no sentido de não espreitar a tenda das raparigas.
A tese do digníssimo procurador do ministério público, a partir da qual parece ter presumido a licitude do gesto, surge enquadrada naquilo que designou como tendo sido um exercício de“poder-dever de correcção”. Aprendam: a violência praticada por quem está investido/a do poder cristão não é violência, mas poder-dever de correcção. Só o flagelo do corpo poderá expurgar os demónios que levaram este jovem malandro a espreitar as raparigas...um exorcismosito rápido, embora sangrento, desde que com um fim moral...é uma benção, não uma forma de maus-tratos.
Um jovem de 13 anos que se atreve (como é possível???) a passar por cima de uma demanda de um catequista e ousa deitar o olho às gaiatas (que atrevimento)...precisa de ter o respectivo castigo corporal, sim senhora. Aplauda-se a tentativa de doutrinação...se mais catequistas e procuradores/as do ministérios público estivessem assim comprometidos/as (à séria!) em preservar os bons costumes não havia tanta pouca vergonha!

Que Direitos? Que desafios?

Seminário Violência Doméstica: Que direitos? Que desafios?
Lá estaremos, dia 30 de Novembro, em Santa Maria da Feira.
Mais informações aqui.

"WW"


de João Manuel de Oliveira (Parabéns João!)
com Carlota Lagido, David Miguel e Sara Vaz.
Inserido no Festival Temps d’Images 2007.

Uma reflexão polifónica sobre o terrorismo...
à qual todos/as nos devemos juntar.

domingo, novembro 11, 2007

quinta-feira, novembro 08, 2007

Eu e as agulhas...

Isto de ser mãe tem muito que se lhe diga...especialmente para quem não se revê, como eu, no formato tradicional e essencialista da coisa...
Por mais que tente (tarefa penosa!) elevar a bandeira da maternidade como discurso social e culturalmente construído (mas sobretudo politicamente construído) - e por isso não universal -há quem venha sempre tentar recordar-me que há tarefas que são pertença dessa espécie naturalmente prendada chamada "mães"...

Na segunda-feira, depois de 3 longas semanas em casa a recuperar de uma pneumonia, o Rui regressou à escolinha. Ao fim do dia, quando o pai o foi buscar, voltou a casa com uma bata e com o seguinte recado..."aqui segue a batinha do Rui para a mamã bordar"...

Para quem BORDAR? A mamã BORDAR??? EU, BORDAR? Não me estão a pedir, a mim (logo a quem!!!), que BORDE, pois não? E porque não o papá? A avó? O tio? O bisavô? Qualquer outra figura que goste e tenha jeito para a arte???

Não...parece ser suposto que seja a mamã a bordar...
Mas esta mamã não sabe bordar...não gosta de bordar...e não quer bordar! Não chegaram as idas aulas de Trabalhos Manuais...memórias traumáticas de uma infância em que me puseram frente a frente com nacos de tecido e me obrigaram a fingir que era possível transformar aquilo em tapetes de arraiolos ou bordados de Viana??? Not again...

Arranjaremos uma solução feliz para o caso...certamente! Sosseguem pois aqueles/as que pensam que a criança se sentirá orfã por não ter uma batinha bordada pela mamã...
A consciência social...o ano todo!

"Hello, I'm the portuguese Oprah"...

Há de factos coisas fantásticas... (qual TV Cabo, qual carapuça...)
Se pudesse entrevistar Oprah Winfrey Júlia Pinheiro começaria por lhe dizer "Hello, I'm the portuguese Oprah"...
As semelhanças não poderiam ser mais óbvias, evidentemente...
Assim como não poderia ser mais óbvio o devaneio de algumas figuras ditas públicas que não avistam nada mais para além do perímetro do seu umbigo...

quarta-feira, novembro 07, 2007

Um ano depois...

Infelizmente o tempo para escrever neste cantinho não tem sido muito ultimamente.

Lembro-me de ter lido algures, penso que numa qualquer entrevista, uma frase dita pelo Miguel Vale de Almeida, que tem muito do que sinto por este meu espaço. Dizia ele que o seu blog era uma extensão dele próprio. Também o meu blog tem sido uma extensão de mim própria...

Há cerca de um ano atrás iniciei este percurso sem saber muito bem para onde ele me levaria...hoje, com agrado, vejo que mais do que o meu território de perplexidades, este tem sido um território de partilha de perplexidades.

Obrigada pelas visitas...