quarta-feira, fevereiro 16, 2011

Código Deontológico OPP - Contributos críticos

Na sequência da disponibilização, pela Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP), da proposta de Código Deontológico para discussão pública até ao próximo dia 24 de Fevereiro (disponível em https://www.ordemdospsicologos.pt/noticia/115), apresentamos um texto que integra um conjunto de comentários críticos à referida proposta. Pretendemos contribuir activa e construtivamente para a introdução de alterações que nos surgem como basilares no futuro Código Deontológico, tendo em conta que se trata, nas palavras da própria OPP, “de um texto fundamental para os psicólogos e para todos aqueles que são afectados pelo trabalho dos psicólogos”.

É importante que leia atentamente o texto que elaborámos à luz destes propósitos de contribuição crítica e que nos diga se está de acordo para que possamos, todas e todos, ter voz activa nesta fase decisiva.

Para tal, deve enviar-nos um e-mail para discussaocodigo@gmail.com referindo se subscreve os comentários críticos, com a identificação do seu nome completo e do grau académico de que dispõe. Até ao dia 22 desejamos ter reunido todas as subscrições, bem como eventuais comentários, para que o texto chegue atempadamente à OPP. Note que estes comentários relativos ao texto de nossa responsabilidade não devem ser confundidos com os que poderá querer enviar directamente à OPP através do endereço criado na respectiva página da Internet.

Criámos também um Blog, com vista à facilitação da leitura e da disseminação do texto:
Solicitamos a divulgação desta informação pelo maior número de pessoas que conheça e que estejam relacionadas com o exercício lato da Psicologia.

Prof. Doutor João Manuel de Oliveira
Prof. Doutor Nuno Santos Carneiro
Prof. Doutora Conceição Nogueira
Prof. Doutora Luísa Saavedra
Prof. Doutora Ana Sofia Neves

sexta-feira, fevereiro 11, 2011

A vida normal - Por Carla Machado

“Todos passamos a vida a desejar a vida que não temos. Queixamo-nos do emprego, dos colegas que são chatos, do chefe que não nos dá valor, do muito que trabalhamos e do ordenado que é fraco.Reclamamos do tempo, que chove e não se pode ir à praia, que não chove e faz mal à agricultura, do sol que é pouco ou demasiado, do suor, do frio e do vento, do calor que nunca mais se vai embora e do Verão que nunca mais chega.A família cansa-nos, mas odiamos quando esta nos ignora; dizemos mal do amigos sem os quais não sabemos passar; suspiramos pelo fim do serão em que as visitas se vão embora, mas despedimo-nos combinando um novo jantar.Estamos fartos dos filhos, mas passamos o tempo a falar deles e a mostrar as suas fotografias aos amigos. O barulho que fazem enlouquece-nos, mas o silêncio da sua ausência é insuportável.Queixamo-nos do marido ou da mulher, que não são como dantes, que nos irritam, que não nos surpreendem, mas suspiramos quando nos faltam e reclamamos quando fazem alguma coisa com a qual não contávamos.Estamos no Algarve a suspirar pela frescura do Minho, no Minho damos por nós desejosos da brisa costeira, na cidade irrita-nos o artificialismo e em Trás-os-Montes formigamos com a ânsia de fugir à ruralidade.E do país, todos nos queixamos do país até ao momento em que "lá fora" concluímos com um orgulho disfarçado que realmente "comer, comer bem, só mesmo em Portugal".De queixume em queixume, passamos pela vida muitas vezes sem deixar verdadeiramente que a vida nos atravesse. E só quando somos roubados ao quotidiano que tanto maldissemos damos conta do tempo que perdemos nos lamentos sobre o tempo que os outros nos fazem perder.Há pouco mais de um mês, numa consulta que era suposto ser de rotina, foi-me diagnosticado um tumor. Felizmente benigno, como soube após 24 horas de espera. E, tal como seria de prever, naquele momento inicial em que o espectro de algo mais grave ainda não tinha sido afastado, o meu pensamento imediato foi: "Mas afinal porque é que eu estou aqui, afundada em Braga a trabalhar, em vez de ter já há muito tempo fugido para Bora-Bora?" Passado contudo tal instante, e nas 23 horas que se seguiram, foi da vida normal que tive saudades antecipadas. A vida normal: trabalhar, ir ao cinema, abraçar quem amo, rir-me das pequenas parvoíces do quotidiano, ver a minha filha a dormir e sentir o seu cheiro.A vida normal está aqui mesmo ao lado. E aposto que Bora-Bora tem imensos mosquitos.”

Professora Doutora Carla Machado in PUBLICO, 24.08.2006