segunda-feira, julho 30, 2007

"Efeito chamada"

O Ministério do Trabalho e dos Assuntos Sociais espanhol lançou o debate em torno daquilo que acredita poder ser o resultado preverso da divulgação, por alguns meios da comunicação social, de notícias sobre casos de violência de género: o Efeito Chamada ("efecto llamada").
Um estudo realizado em Espanha concluiu que 50% das mortes sexistas ocorridas entre 2003 e 2007 concentraram-se nos 3 dias após o cometimento de um crime da mesma natureza. Esta evidência poderá indiciar que a exposição a notícias de violência terá um efeito desinibitório nos potenciais agressores, constituindo-se quase como um apelo para a prática do crime (daí a designação "efeito chamada").
Muitas associações de mulheres do país têm vindo, no entanto, a defender a continuidade da divulgação destes casos pelos media, argumentando que de outra forma o fenómeno perderia o seu carácter público. Não poderia estar mais de acordo.

O "efeito chamada" para as vítimas é a visibilidade do fenómeno.
A consciencialização dos seus direitos faz-se, muitas vezes, unicamente através da comunicação social. A mesma comunicação social que tem o poder de lhes mostrar uma visão criminalizada da violência que as confina ao silêncio das casas onde habitam, silêncio quase sempre armadilhado pela desinformação.
Este silêncio é o mais mortífero de todos. Não podemos compactuar com ele.

domingo, julho 29, 2007

A função das mulheres

A deputada do PSD Madeira, Rafaela Fernandes, terá dito a semana passada, numa sessão parlamentar dedicada à discussão da aplicabilidade da Lei da IVG no arquipélago, que a função das mulheres é a da procriação. Mais tarde, numa entrevista ao DN, negou ter feito tais declarações, afirmando-se inclusivamente a favor do aborto.

Esta posição social relativamente à natureza feminina e às suas demandas biológicas deriva de uma visão clássica sobre aquele que deve ser o mais importante de todos os papéis desempenhados pelo sexo feminino. A tese de que as mulheres estão destinadas ao exercício da maternidade encontra sustentação na ideia de que essa é a sua suprema vocação.
A maternidade torna-se assim um atestado de capacidade. Como se não ser mãe signifique não ser verdadeiramente mulher. Como se não ser mãe seja uma espécie de amputação da identidade feminina.
Escolher? Optar? Decidir? Não! As mulheres não têm direito de querer.
A maternidade, aparentemente, não deve ser um caminho, deve ser o caminho. Está escrito no seu destino que essa é a sua verdadeira condição. Uma condição que, muitas vezes, não é aquela que escolheriam se tivessem podido escolher. Mas não é suposto que possam escolher! Que mulher, no seu perfeito juízo, repudia a função que a faz mulher?

A maternidade, assim como a paternidade, não é uma função nem uma atribuição biológica.
É muito mais do que isso. É sobretudo uma escolha que se deve poder fazer sem que o imperativo dos papéis de género nos estreite a liberdade!

sábado, julho 28, 2007

Glenn: Le Magnifique

A propósito do ditado (tão oportuno!): Atrás de um grande homem há sempre uma grande mulher!

A Líder (em discriminação!)

"Siga a Líder".
É o mais recente slogan da Super Bock!
Avistei-o enquanto conduzia, estrategicamente situado na parte de trás de uma carrinha que seguia mesmo à minha frente!

Era mesmo o que me faltava!
A Super Bock a dar-me ordens!

quarta-feira, julho 25, 2007

Um olhar necessário

Um olhar necessário
Por Carla Machado

Público, 28.05.2007

São as crianças, como no caso daquela escola, quem por vezes é mais cruel. Mas não é necessariamente assim. Na rua, são sobretudo as crianças que olham. "Mãe [é sempre "mãe"; porque será?], porque é que aquela senhora usa aquele lenço?", "Mãe, o que é que ela tem?", "O que lhe aconteceu?". Alguns adultos respondem às perguntas das crianças. Outros, embaraçados, mandam-nas calar, disfarçam, olham para o lado. Outros, ainda, olham também. Há mesmo quem chegue a virar a cabeça e a prolongar a mirada. Suponho que é normal. Demasiado habituados a um país uniforme, estranhamos o que nos arranha a superfície das expectativas. Já não estranhamos o cego nem o aleijado a pedir - desses iludimos a presença, desviando o olhar. Mas ainda olhamos quem fala ou parece diferente, na cor, no aspecto ou no agir.
Primeiro tive medo, confesso. A cabeleira, teimosamente guardada no armário, olhava para mim, a insinuar: "Não precisas de passar por isso. Podes parecer normal". Ainda cedi, algumas vezes. Mas era como se outra que não eu me habitasse. Outra, saudável. Não eu, com cancro. Depois decidi: "Não uso mais". E assim tem sido.
Olhem, se quiserem. Aliás, façam o favor de olhar. Porque eu estou aqui, neste espaço, com o mesmo direito de aqui estar que antes tinha. E é bom que vejam que, como eu, muitos outros diferem. Que a saúde, como a normalidade, é uma ficção que só temporariamente habitamos. E que, a qualquer momento, qualquer um de nós pode ser o temido rosto do "Outro". Olhem para mim. E vejam-me. Não olharam. Não olharam a tempo, no caso da criança que foi forçada a afastar-se da escola por ter cancro. E por não terem olhado a tempo, às dores já sentidas juntaram outra dor. Não há desculpa para causar dor a quem habita a dor mais funda de todas, a de poder perder um filho. Ou para ferir quem é mais frágil, embora tenham muitas vezes almas fortes, as frágeis crianças que povoam os corredores dos IPO.
É certo que não há nunca, nestas coisas, vilões e vítimas passivas. Que as pessoas reagem por vezes intempestivamente a situações "pequenas" (não sei se foi o caso, mas o que é "pequeno" face ao sofrimento de uma criança e à impotência de quem a quer proteger?). Mas também é certo que as coisas só chegam a este tipo de extremos porque alguém que devia ter visto e agido não olhou e não o fez. Para que serve uma escola, afinal, se não cuida dos mais fracos que lhe são entregues? São, já disse, as crianças as primeiras a olhar. Porque ainda não dominam a arte do subterfúgio, querem saber: "Mãe, porque é que aquela senhora não tem cabelo?". São as crianças, como no caso daquela escola, quem por vezes é mais cruel. Mas não é necessariamente assim.
Há alguns meses, a minha filha, de quatro anos, chorou quando lhe disse que ia ficar sem cabelo. E disse que tinha medo. Hoje chama-me com ternura "Ruca" (o seu boneco favorito, também sem cabelo) e "mãe carequinha" quando me quer gozar. Não foi difícil. Bastou não contaminar o seu olhar com o nosso medo.
Será pedir de mais a quem é adulto?

A Prof. Carla Machado, de quem tive o enorme privilégio de ser aluna e depois colega na Unidade de Consulta em Psicologia da Justiça, na Universidade do Minho, é uma das mulheres mais brilhantes que conheço.
Este seu texto é para mim um dos expoentes máximos desse seu brilhantismo.
Mais uma lição que nos dá a todos/as. Talvez a mais importante de todas!

terça-feira, julho 24, 2007

A dança do varão e o poder das mulheres...

...ou há dias em que deveria ter ficado a dormir!

Ontem à tarde tive, mesmo sem querer, uma aula via televisão sobre o poder das mulheres (coisa de que, fiquei a saber, conheço muito pouco!).
Uma jovem actriz da TVI, Paula Neves, ao conversar com outras mulheres e com Júlia Pinheiro sobre striptease e danças eróticas numa amena conversa carregadinha de estereótipos (implícitos e explícitos: havia de tudo!!!), afirmou a dada altura que só descobriu o verdadeiro poder de ser mulher quando começou a dançar no varão!!!

Como é que nós, feministas, nunca pensámos nisto antes???

Insanidade galopante

Será que eu entendi bem?
PS acusa Jardim de "desrespeitar" Cavaco???
E o Parlamento??? Ora essa!!!
Então e as mulheres??? Mais particularmente as madeirenses???
O PS não se preocupa com elas???
É que no meio desta insanidade galopante que turva o bom senso de quem dela padece as mulheres parecem ser as que menos interessam! As que não interessam!!!
Então o Sr. Silva (a quem amavelmente o Sr. Jardim se dirigiu em outros momentos mais ou menos respeitosos) recusa chamar a si - Presidente da República - a responsabilidade (e a tal legitimidade democrática) que em eleição lhe conferiu o povo? Mas não é este senhor o Chefe de Estado a quem compete, entre outras coisas, regular o funcionamento das instituições democráticas ?
Mas em que país vivemos nós? Não é isto um exemplo flagrante de discriminação?
Não há nenhuma lei nacional que ponha fim a isto??? Ou será que a aplicação das leis nacionais em matéria de discriminação também está sujeita às vontades de Alberto João Jardim??? Vontades às quais muitos/as se curvam em jeito de vénia! Presidente da República incluído!

sábado, julho 21, 2007

sexta-feira, julho 20, 2007

Atropelos à liberdade

Uma outra voz de indignação a juntar-se a tantas outras.
É que este nosso país pretensamente democrático está a emaranhar-se em sucessivos atropelos à liberdade. Desatar o nó vai ser difícil.

terça-feira, julho 17, 2007

segunda-feira, julho 16, 2007

Silêncios e cumplicidades

Os nossos silêncios e cumplicidades fortalecem as mãos, os tacos e as armas que são usadas para espancar ou matar as mulheres vítimas de violência. Há uns anos, uma campanha publicitária de uma instituição mexicana, lançava um slogan que me parece que ainda não assumimos como nosso: "El que golpea a una, nos golpea a todas".
Morreu mais uma mulher em Portugal vítima de violência conjugal. Naquela lagoa onde o corpo foi encontrado não estava apenas Carla Silva. Estava cada uma de nós.

sábado, julho 14, 2007

A ditadura no seu melhor

Na Madeira não é o povo quem mais ordena.
Jardim, ao recusar a aplicação da Lei da IVG na Madeira, superou-se a ele próprio!
Em despotismo, tirania e usurpação de poder!
A ditadura no seu melhor! Ao estilo de quem verdadeiramente a sabe fazer!

sexta-feira, julho 13, 2007

Nothing less

"Women do not need a room of their own. Feminists, both men and women, need a very large continent of our own. Nothing less will do".
PHYLLIS CHESLER (1997). Letters To A Young Feminist.

Tive o meu primeiro contacto com a obra e o pensamento de Phyllis Chesler aquando das minhas primeiras incursões pelo fascinante universo da Psicologia Feminista. Antes delas o meu conhecimento sobre o activismo das psicólogas feministas na academia e o seu impacto no desenvolvimento da ciência crítica era quase inexistente, fruto do mainstreaming positivista que comandava (e comanda ainda) o ensino da Psicologia em Portugal.
Em 1972, com a publicação de uma das suas mais emblemáticas obras - Women and Madness - Chesler denunciou de forma exemplar a estigmatização a que as mulheres estão sujeitas, em termos de saúde mental, pelo facto de serem mulheres. A problematização do conceito de loucura e a sua relação com o género veio sacudir os dogmas instituídos e propôr um debate alternativo sobre a dimensão (e as implicações) da feminização da psiquiatria.

É preciso continuar a sacudir os dogmas da ciência e a propôr debates alternativos.
Nada menos do que isso se pode esperar de quem a constrói.

quinta-feira, julho 12, 2007

Taxas de Natalidade e Regulamentação da Lei da IVG

Ficamos ontem a saber que Portugal registou, em 2006, os valores mais baixos de sempre no que respeita a taxas de natalidade.
Não tardaram os argumentos a favor da necessidade da conciliação da vida familiar e profissional das MULHERES (claro!).
A atribuição da culpa às mulheres pelo envelhecimento demográfico é certamente o argumento seguinte! Coincidência ou talvez não: a regulamentação da lei da interrupção voluntária da gravidez entra em vigor dia 15 de Julho!

quarta-feira, julho 11, 2007

Eureka!

Ainda há quem diga que as fêmeas não são resistentes!

A igreja e a liberdade de expressão

A igreja parece estar indignada com aquilo que diz serem os problemas de falta de liberdade na comunicação. De facto, se há matéria sobre a qual a igreja se pode pronunciar é a da liberdade de expressão!
Às declarações de D. Carlos Azevedo - "não somos nenhuma força sindical" - apetece-me responder: olhe que são, olhe que são! Uma espécie de patronato sindical!

terça-feira, julho 10, 2007

Chefe de família

A coisa até corria bem...não fosse a infeliz calinada do chefe de família!
Desde 1978 que não temos entre nós esse baluarte do estatuto patriarcal: pelo menos na lei!

Intenção genuina

Ontem à noite sentei-me calmamente no sofá da sala com a intenção genuina de ver o debate da RTP com a Helena Roseta e os 11 candidatos à CML.
Apesar do meu entusiasmo inicial (costumo apreciar manifestações circenses), ao fim de 10 minutos de entediantes tricas (teria a Fatinha a palmatória escondida?) estava a ver o Dr. House.
Sempre prefiro a loucura saudável!
Lugares Emergentes do Sujeito-Mulher:
Viagem com Paulo Freire e Maria de Lourdes Pintasilgo
Autora: Marijke de Koning (de quem confesso gostar muito!)

Um livro para nos acompanhar nas férias...
Pela excelência da reflexão...

Biblioteca "Pela Diversidade, contra a Discriminação"

Para quem se interessa pelas questões da Diversidade e da Igualdade a Biblioteca de Documentos interactiva ''Pela Diversidade, Contra a Discriminação'' é um sítio interessante para visitar.

sábado, julho 07, 2007


A defesa do nosso planeta não pode ser senão um compromisso diário...
O activismo ambiental também é uma expressão de cidadania.

sexta-feira, julho 06, 2007

"Mujeres sin etiqueta"


Temos tanto que aprender com nuestros/as hermanos/as!

Maravilhas

Como estamos em maré de maravilhas...pergunto-me se Joe Berardo achará que faz parte da lista dos monumentos finalistas...
Não há pachorra.

Manifesto 2007 Igualdade de Direitos Aqui e Agora

Amanhã o Orgulho LGBT está no Porto.
Transcrevo aqui a parte final do Manifesto 2007
Igualdade de Direitos Aqui e Agora:

"É que um país decente olha para as pessoas LGBT como pessoas. Portugal, que assume a presidência da União Europeia no segundo semestre do Ano Europeu de Igualdade de Oportunidades para Tod@s, ainda não é um país decente. Na Europa do século XXI, a igualdade de direitos não é adiável ou negociável. As nossas vidas acontecem aqui e agora. É aqui e agora que exigimos a cidadania plena para tod@s."

Eu também exigo.

Números da violência no privado

Os números são, provavelmente, apenas a ponta do iceberg. Ainda assim reflectem um aumento substancial da denúncia pública, tão necessária à efectiva desprivatização do espaço da intimidade.

quinta-feira, julho 05, 2007

Por entre o silêncio do não comentário fica o repto ao pensamento.

Thailand, 1996
Photograph by Jodi Cobb
Members of a refugee Burmese tribe in Thailand, a Padaung family bathes in a stream. Padaung women are often fitted with brass neck rings. These rings help elongate their necks—a look prized among this group—albeit at the expense of crushed collarbones and rib cages.(Photo shot on assignment for, but not published in, "The Many Faces of Thailand," February 1996, National Geographic magazine)

Presidência Portuguesa

Acho que vale a pena ir seguindo com alguma atenção aquilo que se vai fazendo (ou não) durante a nossa presidência. No palco do poder o espectáculo está ainda a iniciar-se. Para quem gosta de teatro (e eu gosto muito) este é um momento de deleite!