segunda-feira, julho 21, 2008

Casamento civil entre pessoas do mesmo sexo: quando o debate é permeado pela estupidez

Não, não vou remeter-vos para o link do artigo. Vou transcrever o artigo, para que o possamos ler com a atenção e o cuidado que ele merece.

O título do artigo de opinião é:
Casamento "gay", o debate e a estupidez

O colorido é meu!

"Antes que venha a ILGA, ou outro qualquer lóbi "gay", acusar-me da costumeira homofobia ou coisas do estilo, permitam-me que diga o seguinte: sou, no geral, contra qualquer discriminação, nomeadamente contra a discriminação de homossexuais.
Isto passa por defender, como absolutamente legítimo e inquestionável, a possibilidade de os casais homossexuais terem mais ou menos o mesmos direitos do que os outros casais. E digo mais ou menos porque há um direito que eu sei que eles não devem ter: o de adoptar crianças. Reparem que eu jamais direi que um casal homossexual, só por o ser, não sabe tratar crianças com amor e com todos os requisitos de que elas necessitam. Mais: defendo - e defendi, numa crónica neste jornal quando a questão concreta se pôs - que um tribunal não pode tirar um filho ao seu pai ou mãe natural baseado no facto de ele (ou ela) ser homossexual.
Apenas digo que o Estado, ou quem guarda as crianças a adoptar, não deve discriminar nenhuma delas entregando-a a um casal que não está dentro da norma (no sentido em que a norma, encarada do ponto de vista meramente estatístico, é o casal heterossexual). Aliás, quando o primeiro-ministro, criticando Manuela Ferreira Leite, considerou 'pré-moderno' afirmar que o casamento se destina à procriação, eu permito-me discordar. Não é pré-moderno, é da condição humana.
Todos nós ao cimo da terra somos filhos de um pai e de uma mãe e não de dois pais ou de duas mães. O Estado pode legislar contra este facto da natureza, mas é arrogante pensar que pode alterá-lo na sua essência.
De resto, a discriminação que sofreria uma criança entregue a um casal homossexual é, a meu ver, muito mais condenável do que não chamar 'casamento' à união que consagra os direitos de dois homossexuais.
Acrescentaria, ainda, que uma lei de coabitação bem feita poderá perfeitamente servir. Com a vantagem de o Estado não necessitar de saber quem é homossexual e quem apenas vive junto por necessidade económica, amizade pura ou outro qualquer aspecto que só ao próprio diz respeito.
Resolver problemas na prática é a finalidade da política. Se permitir todos os direitos menos o da adopção (como parece ser a disposição do PS e do PSD), não se pode chamar a essa junção 'casamento', como pretendem certos políticos convencidos da sua modernidade. A insistência no nome apenas revela a agenda escondida, ou seja, a adopção de crianças por homossexuais. E isso seria de uma estupidez imperdoável".

Assina o texto Henrique Monteiro, no Expresso desta semana.

Não faço parte da ILGA, não sou lésbica, nem pertenço a nenhum lobby gay. Mas poderia fazer parte da ILGA, poderia ser lésbica e poderia pertencer a um ou vários lobbies gay. Não preciso pertencer a nenhuma destas categorias para apontar o dedo à costumeira homofobia ou outras coisas do estilo. É que a luta contra a discriminação não é uma coisa lá com eles e com elas, é uma coisa nossa, dos cidadãos e das cidadãs deste país, portanto uma questão de CIDADANIA.

Mais uma vez a discussão gira em torno do que parece melhor descredibilizar e enfraquecer o direito ao casamento civil entre homossexuais. Retomou-se um debate antigo (que conhecemos bem): o do direito à vida (já não o direito ao nascimento, mas o direito ao desenvolvimento harmonioso). À vida de quem? Ao desenvolvimento de quem? Das crianças, claro. É-nos dito neste artigo, sem reservas, que o dramático da exigência da consagração do casamento civil entre homossexuais é o facto de haver nessa exigência um interesse velado: o de adoptar crianças. Como os homossexuais têm mais ou menos os mesmos direitos que os outros casais, é possível que eles sejam mais ou menos discriminados. As crianças é que não o podem ser. Porque ser pai ou mãe de uma criança e ser ao mesmo tempo homossexual ou lésbica é submetê-la a uma atroz discriminação...

Imagino como será traumático para uma criança ser filha de duas mães ou de dois pais que a amam...

Imagino o difícil que deve ser para uma criança viver numa família saudável...que lhe presta cuidados, que a mima, que a ampara, que a protege...

Imagino como será penoso para uma criança ser feliz fora da alçada da norma dos outros. É que a norma é muito mais do que um conceito estatístico...

Não posso imaginar, isso sim, o que seria não poder ser livre para casar ou para ser mãe do Rui (ou de qualquer outra criança) apenas por ser lésbica.

Essa seria uma estupidez que eu não perdoaria ao Estado português.

5 comentários:

Sónia Oliveira disse...

É sempre o mesmo argumento... Poderoso e que arrasta multidões e cega quem o ouve. "As crianças vão sofrer: não por mim porque até não descrimino e até respeito, etc. Mas pelos outros, os outros não iriam perdoar e a criança, essa sim, iria sofrer, por isso não sou a favor." Como pode não perceberem que estes argumentos, esta palavras e estas crenças reforçam que a sociedade o faça, como podem não perceber que começa em nós, como pode não se perceber que ao atirarmos para os outros, estes fazem o mesmo e os outros e estes devem ser eles próprios. É sempre a mesma desculpa: "não é por mim, é pela sociedade, pelos outros".
Tenho ouvido isto com tanta frequência, que cada vez me apercebo mais de que quem fala assim, desconhece o que é a liberdade, e o que é ser pessoa, ponto, pessoa.

Um abraço, professora:)

Anónimo disse...

Na verdade vivemos numa sociedade livre, em que todos podem expressar o seu pensamento… Quem somos nós para repudiar costumes civilizacionais? Bom, podemos criticar, tal como eles nos criticam a nós. Não é ser homofobico defender que a estabilidade de uma criança só se adquire na sua plenitude num seio de um casal de sexo oposto, porem, as opiniões nesse sentido resultam da cultura da sociedade em que vivemos, em que estamos inseridos, isto quer se goste quer não. Sou a favor do casamento homossexual com inteiros direitos, sem qualquer tipo de descriminação, ou restrições. Sobre a adopção de crianças não tenho a opinião completamente formada, depende de vários factores, desde logo a estabilidade do casal, aplicando-se este pressuposto a casais heterossexuais ou não. Vivemos em Portugal, temos de lidar com uma cultura austera enraizada na essência da nossa sociedade. Para vencer mentalidades, as ideias não podem ser impostas, tem de partir da sociedade em si mesma, sem radicalismos, sem formação de grupos que se auto excluem por si próprios, sem dogmatismos ou tabus, tudo se conquistará.

Ludovina Azevedo disse...

A mim choca-me o popular argumento (como se esta questão precisasse de uma defesa): a sociedade vai discriminar as crianças.E conjuctura-se assim, como se a sociedade fosse alguém do lado de fora, alguma entidade distante à qual nao pertencemos.Pois bem, a sociedade não são os/as outros/as...somos nós e os/as outros/as,todos/as em conjnto,como tal cabe-nos a nós essa missao de não colocar a "sociedade " discriminatória, começando por nao dizer aos/às filhos/as que o /a menino/a sofre porque tem dois pais ou duas mães. Além disso, hoje em dia, as crianças ( e os adultos, e os idosos...) são discriminadas pelos/as colegas por outros motivos:serem gordinhos/as, usarem oculos, aparelhos nos dentes, terem sardas, etc.Então, porque razao apenas as adoptadas por homossexuais são cerne de tanta "preocupação"??Exactamente, por isso mesmo, porque são adoptadas por homossexuais...!Os unicos estudos feitos realmente com crianças adoptadas por homossexuais mostram apenas uma caracteristica que é comum na maioria das amostras:as crianças são mais tolerantes à diferença..... Como já tive oportunidade de dizer neste blogue, embora nunca seja demais repetir, penso que vivemos numa altura em que todas as nossas escolhas, opções e diferenças têm de ser justificadas. Sendo assim é melhor começarmos por deixar por escrito, ou tentar perceber cientificamente a etiologia de uns/umas gostarem de carne e outros/as de peixe, uns/umas de sol e outros/as de chuva, uns/umas de amarelo e outros/as de azul, uns/umas de praia e outros/as de campo, e por aí adiante.
Somos todos/as diferentes, e a unidade está apenas e unicamente na diversidade.Continuemos unidos/as, pelas causas que defendemos!

Helena Velho disse...

Li este texto com atençao e um outro não menos insano de um tal RRamos...
e só me surge isto:
o discurso deste senhores deveria ser premiado por tanta estupidez junta!
Um beijinho enorme!

maria cecilia disse...

Hoje passei por este cantinho, já há algum tempo não o visitava e nem de propósito...Ontem tive uma "discussão" saudável, numa reunião de amigos e familiares acerca deste mesmo assunto, melhor sobre a adopção...
Os argumentos são sempre os mesmos: " Já viram como se vai sentir a criança na escola quando lhe perguntarem pelo nome do pai e da mãe?" ..."As crianças ficam traumatizadas, coitadinhas.." " Isto é anti-natural", etc..., etc..
Eu só os questionei em relação as crianças institucionalizadas, que não têm colos nem afectos, recordei-lhes o que seria melhor, na perspectiva deles.
De seguida, falei das crianças que crescem e são educadas em lares de freiras ou padres? Perguntei-lhes qual a diferença? Porque não deixam as pessoas serem livres nas suas escolhas? Porque se sentem tão aflitos e incomodados com a procura felicidade? Os vossos rituais e cultura é que são os correctos ? Por quanto tempo seremos autistas e o nosso ponto de referencia é o próprio umbigo???? A discriminação, a marginalização é algo que me faz reagir, são injustiças às quais não posso deixar de responder e de ter um papel mais activo...nem que seja somente de opinião...Tento no mínimo tocar as consciências dos que me respondem categoricamente das suas certezas, pois e segundo eles/as o seu "modus operandi" é que é o melhor e o exemplo a seguir!!!!