Quando oiço perguntar "Ó mulheres portuguesas, onde andam vocês que não vos ouço?" fico cheia de comichões (ó se fico!). E quando as comichões me invadem...entro no chamado estado do feminismo furioso (tipologia que desconhecia até hoje, eu que me achava uma entendida nestas coisas dos feminismos! Estamos sempre a aprender!).
O gesto sobre o qual João Miguel Tavares disserta não tem nada de insignificante. Ele é todo significado. De facto aquele ritual nada subliminar, uma espécie de ofertório, serve um propósito muito claro: o de premiar o macho vencedor com troféus de carne e osso.
É o cenário com que qualquer macho que se preze sonha...ser levado ao pódio da dominação tendo como recompensa não uma, mas duas meninas, geralmente de pernão à mostra, a mordiscar-lhes a bochecha. É o cenário que o sistema monta para perpetuar aquilo a que chamamos a ordem de género.
Não, nós as mulheres portuguesas (olhem eu a apoderar-me de mansinho do conceito de representatividade!!!) não nos conformamos com a exibição pública das mulheres e com a sua coisificação.
Nós as mulheres portuguesas temos feito (com sangue, suor e lágrimas, literalmente falando) a nossa luta em prol da igualdade entre os sexos. Temos andado por aí (ainda andamos) e temos erguido a nossa voz (ainda erguemos)... temos feito (ainda fazemos) a nossa quota parte de um projecto político que, ao que julgo saber, não é só nosso (ou é???). Só não nos vê e não nos ouve quem não nos quer ver e quem não nos quer ouvir!
É caso para perguntar: Ó homens portugueses, onde andam vocês que não vos ouço? Talvez se os homens portugueses andassem por aí a fazer-se ouvir as meninas do ciclismo não seriam apenas corpos que passam, beijam e rapidamente saiem de cena.
p.s. Só um esclarecimento em jeito de nota de rodapé (para desilusão de muitos/as...peço desculpa): não foram queimados soutiens em nenhuma praça portuguesa (pelo menos pelas feministas!!!)
terça-feira, agosto 14, 2007
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário