De longe não ouvimos os gritos nem vemos os rostos...passeamos, do lado de cá da barricada, sem culpas, por entre o anonimato que nos parece salvaguardar a paz interior.
De longe não enfrentamos de frente os olhares que suplicam ajuda, não tocamos a pele que a fome mata, não sentimos o cheiro que a guerra exala, não experimentamos a dor que a violência provoca.
De longe esgueiramo-nos por entre a desculpa de que estamos longe.
Todos os dias, agora mesmo, do lado de lá da nossa barricada, milhares de mulheres são vítimas de violação em massa em teatros de guerra. O ritual implica que a violação seja muitas vezes realizada em público, por vários militares, frente aos companheiros, à família ou à comunidade das vítimas. Os militares, enquanto violam, entoam cânticos de celebração e lembram às vítimas que elas não passam de escravas ao seu serviço.
De longe tudo soa a longe.
Mas estaremos assim tão longe?
Que distância é esta que nos impede de calar os cânticos de celebração que visam lembrar às mulheres que elas não passam de escravas ao serviço dos homens, quer estejam eles em guerra, ou em paz?
Que distância é esta que nos anestesia diante da barbárie?
Que distância é esta que nos faz esgueirar por entre a desculpa de que estamos longe?
sexta-feira, agosto 24, 2007
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