terça-feira, maio 29, 2007

O longo caminho das mulheres



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Para ler e saborear...
Porque ainda é um caminho nosso...que se faz...caminhando...

Brasil excomungado?

Chega-nos do Brasil a notícia de que o governo vai subsidiar 90% do preço de referência dos anticoncepcionais. Esta medida surge no âmbito de uma aposta forte na política de planeamento familiar do país, dirigida sobretudo às populações mais carenciadas. O Presidente Lula parece querer democratizar o direito de viver em pleno a sexualidade livre, sem o imperativo da procriação.

Aqui para nós que ninguém nos ouve:
A visita do Papa não surtiu grandes efeitos por aquelas bandas...
Avizinham-se para Ratzinger tempos difíceis!!! É que excomungar tanta gente deve ser trabalhoso, não?

segunda-feira, maio 28, 2007

Lição de vida


Hoje fechou-se um ciclo da minha vida.
São muitas as lições que retiro.
Destaco apenas uma: a de que nunca devemos perder de vista a paisagem que nos leva à liberdade. O caminho até ela pode ser sinuoso...mas uma vez lá, todos os sonhos são possíveis.
Vale a pena ir em busca dos nossos direitos.
São eles que nos resgatam das teias da injustiça e nos devolvem a paz.
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domingo, maio 27, 2007

Stop DARFUR

Há uma série de campanhas em curso com o objectivo de exigir às instâncias competentes em matéria de salvaguarda dos direitos humanos uma rápida intervenção humanitária no Darfur. É importante que nos mobilizemos. Denunciando, levantando a voz, indignando-nos. Participando também nos diferentes movimentos colectivos que se dispõem a não compactuar com mais um holocausto.
Para assinar a Europetição que pretende até dia 1 de Junho reunir 1 milhão de assinaturas clique aqui:
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Imagem retirada do site Save Darfur, onde poderá ser assinado outro documento de protesto
http://www.savedarfur.org/content

De novo a linguagem

Quem se movimenta, do ponto de vista epistemológico, em terrenos pós-modernos ou críticos, quer nas ciências sociais em geral, quer na psicologia em particular, reconhece inevitavelmente o valor da linguagem na construção da realidade social. Não é por acaso que no âmbito destes terrenos epistemológicos, se acentua o potencial performativo dos discursos, assim como se sublinha a sua estreita relação com a definição daquilo que é (ou se pensa poder ser) a normatividade.

Não resisto à tentação de aprofundar os argumentos que me levam a fazer da linguagem que uso uma estratégia de luta contra a discriminação, não só no que toca às questões de género (que tendo em conta os meus interesses de investigação assumem naturalmente para mim mais saliência), mas igualmente no que toca às questões étnicas, de orientação sexual ou de classe social (entre outras).

Vamos então às questões de género:

Quando assumimos que o Homem (e a letra maiúscula é intencional) representa o todo da humanidade estamos a incorrer num tipo de discriminação que não é senão o produto de uma visão androcentrista da realidade social, que exclui as mulheres ou as subordina a um estatuto de menoridade. Assim, a designação Homem, ao invés de pretender apenas englobar (como se defende) os homens e as mulheres, aquilo que faz efectivamente é reforçar a hierarquização de género, demarcando a condição de superioridade dos primeiros.

A recomendação sobre a eliminação do sexismo na linguagem do Comité de Ministros do Conselho da Europa, adoptada a 21 de Fevereiro de 1990, reza assim:

«Persuadido de que o sexismo de que está impregnada a linguagem em uso na maior parte dos Estados Membros do Conselho da Europa - que faz prevalecer o masculino sobre feminino - constitui um entrave ao processo de instauração da igualdade entre as mulheres e os homens, visto que oculta a existência das mulheres que são a maioria da população negar a igualdade da mulher e do homem;
Notando, também, que a utilização do género masculino para designar as pessoas de ambos os sexos é geradora, dentro do contexto da sociedade actual, de uma indefinição quanto às pessoas, homens ou mulheres, em questão;
Consciente da importância do papel que a educação e os média representam na formação das atitudes e dos comportamentos;
Recomenda aos Governos dos Estados Membros que promovam a utilização de uma linguagem que reflicta o principio da igualdade entre as mulheres e os homens e que para isso, tomem todas as medidas que julguem úteis a fim de:
1 - Incentivar a utilização, na medida do possível, de uma linguagem não sexista que tenha em consideração a presença, o estatuto e o papel das mulheres na sociedade, tal como acontece em relação ao homem, na prática linguística actual;
2 - Harmonizar a terminologia utilizada nos textos jurídicos, na administração pública na educação com o principio da igualdade entre os sexos;
3 - Encorajar a utilização de uma linguagem isenta de sexismo na Comunicação Social".

Não podemos esquecer que a nossa linguagem é estruturante. Através dos nossos discursos criamos realidades, construímos diferenças, arquitectamos os processos que nos conduzem à discriminação. Não há neutralidade na construção dos mundos sociais.

Fazer da linguagem uma estratégia de mudança social é pois o caminho para a desconstrução.
A desconstrução das desigualdades que nós próprios/as edificamos, muitas vezes sem ter consciência de que o fazemos.

terça-feira, maio 22, 2007

Ano Europeu da Igualdade de Oportunidades para Todos e Todas

2007 é o Ano Europeu da Igualdade de Oportunidades para Todos.

O ministro da presidência, na sua nota de boasvindas publicada na página que o país dedica ao assunto, refere:
Na verdade, se é importante tomar consciência do longo caminho já percorrido para a afirmação e garantia dos direitos humanos - verdadeira conquista de civilização - importa também identificar com realismo os problemas que ainda subsistem e manter os olhos postos num futuro que queremos mais inclusivo. Cultivar o valor da diversidade, fomentar a tolerância, combater a discriminação, promover a inclusão social - eis o nosso programa para este Ano Europeu.

Pergunto eu Sr. Ministro: O Ano Europeu da Igualdade de Oportunidades é só para todos? Ou também é para todas???
É que isto da igualdade tem muito que se lhe diga, sabe?
Não basta ser...é preciso parecer!

http://www.igualdades2007.com.pt/

domingo, maio 20, 2007

A voz da rebelião


Cresci com a Mafalda...

A menina revolucionária que contrariou as tendências do seu tempo.
A menina atenta aos contrangimentos do mundo.

A menina que subverteu as lógicas tradicionais

e se tornou a voz da rebelião...

Continuo a crescer com a Mafalda...
A menina que encarna o rosto das mudanças possíveis.

sexta-feira, maio 18, 2007

Desemprego qualificado

A taxa de desemprego subiu em Portugal para o valor mais elevado dos últimos 20 anos.
As qualificações académicas não têm sido garantia de estabilidade laboral, nem mesmo de possibilidade laboral...a precaridade é uma realidade que convive com as pessoas diariamente. E que as fragiliza.
Lembro-me de há tempos ter ido a uma hipermercado aqui em Braga onde estava a trabalhar como operadora de caixa uma ex-aluna minha que tinha tido um percurso académico brilhante. Aqui a exigente tinha-a avaliado com 19. Aquela não era claramente a meta que ela tinha traçado para ela própria. E talvez por isso tivesse estampada no rosto a desolação de quem se sente traída nos seus ensejos.
Há uma campanha publicitária recente onde se vê a Judite de Sousa (entre outras figuras bem-sucedidas profissionalmente) a vestir um papel que certamente lhe estaria reservado caso não fosse uma profissional qualificada. A mensagem da campanha é a de que sem qualificações as pessoas estão destinadas a ocupar um lugar menor (como se não ser pivot ou jornalista de uma estação de televisão ou estilista fosse uma condição de menoridade).

Se o país não apostar rapidamente em reformas sérias no que toca a questões de empregabilidade...teremos não tarda nada um Portugal repleto de mestres e doutores/as a ocupar lugares menores...

Ansiedade!

Termino a semana inquieta. Preocupada. Cismada até!

Algumas das minhas alunas (e foram de facto só alunas) esta semana disseram-me, ainda que por portas e travessas, que eu sou para elas um factor de ansiedade. E não foram só alunas de uma turma em particular...o fenómeno alastrou-se!
Eu??? Factor de ansiedade? Ora aqui está uma verdadeira perplexidade!
A perplexidade, para ser mais exacta!
Analisemos os argumentos: a exigência, a competência e o curriculum. A idade também, que não sendo muita (valha-nos isso!), conta já com aquilo que elas dizem ser um vasto e dotado percurso. Tudo isto, pelos vistos, contribui para um enorme aumento da sua responsabilidade, o que acaba por reflectir-se em ansiedade.

Fiquei inquieta. Preocupada. Cismada até!
Não me sabia fonte de ansiedade!
Fui ver ao dicionário... ao dicionário comum (esqueci-me por momentos que o DSM existe!!! Não fosse eu descobrir que sou um factor de risco para o desenvolvimento de perturbações psicopatológicas!).
Ansiedade: dificuldade de respiração; opressão; angústia; inquietação de espírito; desejo veemente; impaciência.

Percebem agora porque fiquei inquieta? Preocupada? Cismada até?
Eu que desejo veementemente lutar contra a opressão?

Questões fracturantes

À proposta da juventude socialista de tornar possível em Portugal o casamento entre pessoas do mesmo sexo o partido socialista respondeu que na sua agenda não cabiam, para já, questões fracturantes.

Fracturante é a falta de coragem política!

quinta-feira, maio 17, 2007

O AMOR

A propósito de uma entrevista que dei ao DN o ano passado tive ocasião de dizer que os crimes passionais, e aquilo que eles representam, são o reflexo de uma lógica sociocultural que tradicionalmente tem menorizado as mulheres e legitimado os homens a castigá-las, inclusivamente com a morte. O mito do amor romântico, que alimenta uma crença social no amor sacrificial por parte das mulheres, e que é um factor de risco para a violência na intimidade, configura uma forma de poder para muitos parceiros que, em nome de uma pseudo-supremacia masculina, usam a coacção física, psicológica e sexual como instrumento de dominação sobre as companheiras.

Fui há muito pouco tempo assistir ao casamento, pela igreja, de uma amiga de longa data.
O discurso que ouvi por parte do padre que celebrou o matrimónio foi arrepiante. A apologia do amor incondicional, que tudo suporta e tudo perdoa, retoma (e fá-lo intencionalmente) o regime do amor sacríficio.
A igreja continua a ignorar as evidências que a realidade lhe apresenta. Em nome desse amor sacrifício, que tudo suporta e tudo perdoa, as mulheres têm sido forçadas a despojar-se dos seus direitos individuais. Têm inclusivamente sucumbido, tombado...porque a promessa do amor romântico tem sido, muitas vezes, uma promessa vã que as leva à morte.

Há umas semanas tive conhecimento de mais um caso de homicídio conjugal.
Depois de matar a mulher com 3 tiros no rosto, o agressor suicidou-se. Quando perguntei se havia conhecimento de uma história de vitimação prévia ao homicídio responderam-me aquilo que já previa. Sim, esta mulher era vítima de violência conjugal. Uma vítima crónica, como a maioria das mulheres. Uma vítima a quem o agressor fez questão de mutilar a identidade, desfazendo-lhe o rosto. Não bastava apenas matá-la.

O amor não pode continuar a ser usado como escudo da opressão.
O amor não pode ser sacrifício.
O amor não pode ser a cruz que se carrega, que as mulheres carregam.
O amor só pode ser IGUALDADE.

terça-feira, maio 15, 2007

Relembrando Maria de Lourdes Pintasilgo...

Será que a xenofobia atinge só outras etnias, outras religiões? Ela atinge em primeiro lugar "esse povo vindo de longe" que são as mulheres.

Maria de Lourdes Pintasilgo (2005). Palavras Dadas. Lisboa: Livros Horizonte (p. 65)

domingo, maio 13, 2007

A ditadura do pecado

Ora então recapitulemos...
Na sua visita ao Brasil o Papa apelou ao regresso do namoro à moda antiga. Garanta-se a virgindade até ao casamento, reabilitem-se os valores da família tradicional, faça-se o culto do anti-prazer.
Excomunguem-se também os/as políticos/as pró-aborto, carrascos/as das virtudes cristãs.

Não tarda nada veremos regressar a Santa Inquisição. Com um rosto mais moderno, mas igualmente assustador.
Não estará escrito nas entrelinhas de tudo isto (e no discurso encabeçado pelos/as 500 mil manifestantes que em Itália se insurgiram contra as uniões de facto entre homossexuais) um repto disfarçado à reinstauração da ditadura do pecado?

sexta-feira, maio 11, 2007

Policiamento colectivo

O caso da pequena menina britânica raptada no Algarve, que amanhã faz 4 anos, coloca-nos perante imensas questões, todas elas inquietantes. As questões que neste momento a mim se levantam particulamente têm a ver sobretudo com aquilo que do ponto de vista social temos vindo ou não a fazer para combater de forma eficaz e célere o tráfico humano e os fins a que se destina a transacção comercial a que estão sujeitas milhares de crianças por todo o mundo.
Apesar de não conhecermos objectivamente os contornos deste pretenso rapto, muitas hipóteses podem ser aventadas. Entre elas, e na senda do que tem vindo a acontecer em situações similares, destaca-se certamente a hipótese da inclusão desta criança no circuito das redes pedófilas e da escravatura sexual, circuito esse que funciona como um polvo gigante que movimenta frenética e inteligentemente os seus tentáculos.
O trabalho das polícias é essencial na captura deste polvo e na imobilização dos seus tentáculos. Mas também nos compete a nós, cidadãs e cidadãos, assumirmos uma postura de policiamento colectivo, que nos torne mais vigilantes e mais participativos/as na defesa dos nossos interesses. Não podemos continuar a olhar para estes casos como se eles fizessem parte de uma realidade distante, que não nos diz respeito e sobre a qual não temos responsabilidade de intervir. Não podemos continuar a contemplar egoisticamente o nosso próprio umbigo, acreditando que o nosso perímetro de vida é o único pelo qual importa realmente lutar, resistir, avançar. Não podemos continuar a fingir que vivemos todas e todos numa espécie de universo compartimentado, com fronteiras estanques e escudos impermeáveis.
Ou corremos o sério risco deste polvo nos esventrar irremediavelmente.